terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

PAPIRO, O MÁGICO PAPEL DO NILO...




Oscar Luiz Brisolara
Margens cobertas de verdejantes juncos... entre charcos, crocodilos e aves aquáticas, aparentemente inúteis, multiplicam-se aos milhares os débeis talos dos papiros, embalados pelos ventos cálidos das tórridas planícies do Egito...

Pois esses talos verdes escondem em seus ventres frágeis, brancas e longas fibras como que fios de linha... colados, aos milhares, sobre pranchas, unidos por uma cola consistente, esses cordõezinhos brancos formam folhas, páginas e telas...
tela de papiro

E, por este sortilégio prenhe de fascinantes transformações, foram transportados por séculos e milênios os secretos enigmas escondidos nas brenhas da linguagem, sempre reveladoras e a um tempo nunca suficientemente definidas... Neles moram os insondáveis e incógnitos magnetismos dos Livros dos Mortos, os arcanos de todos os ocultismos sagrados e a sabedoria irrevelada dos sacerdotes de templos sem conta...
Foi neles que Pitágoras, por anos debruçado nos templos do Nilo, descortinou os enigmas de seus teoremas, e mais, deles adveio sua suma interpretação das transmigração das almas, a metempsicose...
Depois foi Platão, a quem os sábios do país da abundância e da carência absolutas revelaram seus sistemas geradores de todo saber, já preexistente, desde todo sempre, na alma humana... semeado pela inesgotável fecundidade divina...
livro arcaico de papiro
E o Velho Sêneca deles bebeu, já nos princípios do cristianismo, mas cuja pureza primordial as vilezas e vícios humanos dos tempos de Nero corromperam e turvaram...
Alquímicos desvelamentos instigam e conduzem espíritos argutos na direção do que é apenas caminho... jamais definição final... e buscam eles, por incontáveis tempos, verdades provisórias, na espera da perfeição... ainda que novamente esvoaçante e frágil...
Pois é da linguagem, na linguagem e pela linguagem, dom sagrado concedido aos humanos, que se escondem, surgem e se revelam todos os signos do que não é, do que é, e do que há de ser, não porque assim o queiramos, mas porque o que é, se nos impõe e simplesmente é a partir da face do infinito.

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