domingo, 18 de fevereiro de 2018

CERTA VEZ, O EGITO


Oscar Luiz Brisolara
De repente...na curva... depois das areias ardentes desde Alexandria... meus sonhos chocaram-se com a realidade. Nos ares escaldantes... um brilho tremeluzia: o Nilo...
Olhos já secos... cansados de tanto olhar... jamais sonhara ser possível a realidade que se me impunha... o menino do campo extasiado diante da história concretizada no sonho do gigantesco rio... mais imenso do que o dos meus delírios... Não me cansava de contemplar... águas plácidas de milhares e milhares de anos miravam-me sem surpresa... como se eu lhes fosse fraternalmente irmão... 
Descobri, num impulso, que já lá estivera... tudo continuava igual... e os crocodilos espreitavam-me de suas beiçolas imóveis e seus olhares suspeitos... e os mesmos ibis sobrevoavam placidamente as águas na busca de qualquer peixe...
E a minha alma perdida vagava entre o delírio e a miragem... sim... eu não estava ali... voara nas cândidas nuvens de meu lugarejo do campo... prenhe de matas e flores... para junto de juncos e verdes papiros...
Na tarde imensa... o imenso rio... sem cansaço algum... descia... enquanto eu subia de sua margem esquerda... ao esquerdo, morada do meu coração, que saltava e forçava a respiração... o inexplicável explicava-se diante de meus olhos... o impossível acontecia... Naquele dia, almocei num barco que descia o Nilo...
Tamanha foi minha contemplação que os faraós não me permitiram deglutir... se era felicidade, não sei... era deslumbramento...

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