sábado, 29 de julho de 2017

Krishna: Sua Posição, Nascimento e Morada (2)

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Posted by Thoth3126 on 29/07/2017
Como o Senhor Krishna Nasceu no nosso Mundo Material, a Terra

O Ser Supremo em Sua forma como Sri Krishna apareceu neste planeta em torno de 3.113 a.C (cerca de 5.129 anos atrás, e no início do Calendário MAIA) e realizou Seus passatempos durante 125 anos, depois do que retornou à Sua morada espiritual. O Vishnu Purana (4.25) estabelece que o final da era do Kali-Yuga começou quando o Senhor Krishna deixou este planeta no entorno de 3.000 a.C.

Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Krishna: o Seu Nascimento como um homem na Terra – Parte II
Por Sri Nandanandana – Fonte principal: http://voltaaosupremo.com

Há muitas histórias na literatura védica que narram como Krishna Se envolve em atividades amorosas com Seus amigos e parentes quando aparece neste mundo e como Ele realiza feitos incríveis que impressionam e maravilham a todos, tanto enquanto neste planeta quanto em Sua morada espiritual. Contudo, Ele traz Seu domínio espiritual e Seus numerosos devotos puros com Ele quando Ele faz Sua aparição e advento neste mundo.

Descrições das muitas atividades e passatempos que transcorrem no mundo espiritual se encontram em textos como Srimad-Bhagavatam, Vishnu Purana, Mahabharata, Chaitanya-charitamrita, Brihad-Bhagavatamritam e outros, os quais explicam os muitos níveis e a natureza ilimitada do reino espiritual. Com efeito, o corpo do Senhor Supremo é descrito como pleno de bem-aventurança eterna, verdade, conhecimento e o mais deslumbrante esplendor, além de ser a fonte de tudo o que existe.


Descreve-se que, quando o Senhor apareceu neste planeta nas encarnações de número dezenove e vinte, Ele fez Seu advento como o Senhor Balarama e o Senhor Krishna na família de Vrishni [a dinastia Yadu], e, assim o fazendo, removeu o fardo do mundo,naquele momento. (Srimad-Bhagavatam 1.3.23)

A história do nascimento do Senhor Krishna é uma narrativa única, e é apresentada no décimo canto do Srimad-Bhagavatam. Cerca de 5100 anos atrás, quando a Terra estava sobrecarregada pelo poder militar de indivíduos demoníacos que haviam assumido a forma de regentes e reis, o espírito da mãe Terra assumiu a forma de uma vaca e se aproximou do Senhor Brahma (Criador) em busca de socorro.

Preocupado com a situação da Terra, o Senhor Brahma, o Senhor Shiva (Destruidor, no sentido da renovação) e outros deuses foram até as margens do Oceano de Leite. Dentro desse oceano, está a ilha que é a residência do Senhor Vishnu (O mantenedor de tudo). Depois de oferecer orações ao Senhor Vishnu mentalmente, Brahma pôde entender o conselho que o Senhor lhe deu.

O Senhor Vishnu disse-lhe que logo apareceria (assumiria um corpo humano) na superfície da Terra a fim de abrandar o fardo causado pelos reis demoníacos. Por conseguinte, os deuses e suas esposas deveriam aparecer na dinastia Yadu a fim de servirem como servos do Senhor Krishna e ampliar o tamanho dessa dinastia.

Brahma, Shiva e outros deuses oram às margens do Oceano de Leite pelo advento do Senhor Krishna na Terra.

Um dia, então, Vasudeva, que viria a ser o pai de Krishna, e sua esposa, Devaki, estavam indo para casa em uma quadriga logo após sua cerimônia de casamento. O irmão de Devaki, o demoníaco rei Kamsa, estava conduzindo a quadriga. Então, uma voz de alerta veio do céu anunciando que Kamsa seria morto pelo oitavo filho de Devaki. Kamsa imediatamente se preparou para matar sua irmã, mas Vasudeva o instruiu e o convenceu a não proceder daquela forma.

O rei Kamsa não ficara satisfeito com as meras instruções, então Vasudeva disse que ele levaria todos os seus filhos a Kamsa conforme nascessem para que Kamsa os pudesse matar. Quando começaram a nascer as crianças, Kamsa, em um primeiro momento, decidira não as matar. Posteriormente, no entanto, Kamsa soube com Narada Muni que os deuses estavam aparecendo nas dinastias Yadu e Vrishni e estavam conspirando para eliminá-lo.

Kamsa, então, decidiu que todas as crianças nessas famílias deveriam ser mortas, e que Vasudeva e Devaki deveriam ser aprisionados em sua cadeia em Mathura. Narada Muni também disse a Kamsa que, em sua vida anterior, Kamsa fora um demônio chamado Kalanemi, que fora morto pelo Senhor Vishnu. Kamsa, disso conscientizado, ficou especialmente enfurecido e tornou-se um dedicado inimigo de todos os descendentes da dinastia Yadu.

Anantadeva (Balarama) primeiramente apareceu no ventre de Devaki como sua sétima gestação. Foi Yogamaya, a potência interna de Krishna, que fez o arranjo de transferir Anantadeva do ventre de Devaki para aquele de Rohini, a esposa de Nanda Maharaja, em Gokula, de quem Ele apareceu como Balarama. Então, com as orações e meditações de Vasudeva, o Senhor Krishna apareceu dentro do seu coração e, em seguida, dentro do coração de Devaki.

Os deuses oram a Devaki e ao Senhor Krishna em seu ventre.

A oitava gravidez de Devaki, então, foi a do próprio Krishna. Quando grávida de Krishna, ela tornou-se crescentemente iluminada, o que chamou a atenção de Kamsa, que quis matar Krishna. Assim, ele absorveu-se em pensar em Krishna. Devaki também chamou a atenção dos muitos deuses, que foram oferecer orações a ela e ao Senhor que em seu ventre gerava um corpo humano.

Quando o Senhor apareceu, Ele primeiro exibiu Sua forma de Vishnu com quatro braços para mostrar que Ele é o Senhor Supremo. Vasudeva e Devaki maravilharam-se e ofereceram-Lhe muitas orações. Contudo, temendo Kamsa, Devaki orou a Krishna pedindo-Lhe que recolhesse Sua forma de quatro braços e exibisse Sua forma humana de dois braços.

O Senhor também lhes contou que Ele aparecera duas outras vezes como filho deles na forma de Prishnigarbha e Vamanadeva. Aquela era a terceira vez em que Ele aparecia como filho deles para satisfazer-lhes o desejo. Naquela noite, durante uma tempestade, o Senhor Krishna desejou deixar a prisão e ser levado para Gokula. Pelo arranjo de Yogamaya, as algemas e os portões prisionais se abriram e os guardas adormeceram, em virtude do que Vasudeva pôde deixar a prisão e levar Krishna para Gokula, salvando assim a criança do perigo de Kamsa.

Krishna (Vishnu de quatro braços) faz Seu advento diante de Devaki e Vasudeva.

Nesse momento, a própria yogamaya nascia de mãe Yashoda como uma menininha. Quando Vasudeva chegou à casa de Nanda Maharaja, todos estavam em sono profundo. Ele, destarte, pôde colocar o Senhor Krishna nas mãos de Yashoda ao mesmo tempo em que pegava a bebezinha dela para a levar de volta consigo.

Quando retornou a prisão, colocou a bebê na cama de Devaki e se preparou para retomar seu lugar na prisão acorrentando-se novamente. Quando Yashoda despertou em Gokula, ela não conseguia se lembrar se havia dado à luz um bebê do sexo masculino ou feminino, e logo aceitou o Senhor Krishna como o seu bebê.

Quando a bebê, Yogamaya, começou a chorar de manhã, seu choro chamou a atenção dos carcereiros, que, então, notificaram o rei Kamsa do novo nascimento. Kamsa entrou violentamente na prisão a fim de matar a criança. Devaki suplicou-lhe que poupasse a bebê. Rejeitando o rogo da irmã, arrancou a menina de suas mãos e tentou atirar a bebê contra uma rocha.

Vasudeva leva Krishna recém nascido para fora da prisão silenciosamente.

Contudo, ela deslizou para fora de suas mãos e ergueu-se acima de sua cabeça, flutuando no ar enquanto exibia sua verdadeira forma adulta como a deusa Durga de oito braços. Durga disse a Kamsa que a pessoa pela qual ele estava procurando (Krishna) já havia nascido e estava em outro lugar.

Kamsa encheu-se de surpresa vendo que o oitavo filho de Devaki aparecera no sexo feminino e que o inimigo que ele temia havia nascido em outro lugar. Ele, então, libertou Devaki e Vasudeva, pedindo desculpas por tudo o que fizera. Todavia, após se consultar com seus ministros, Kamsa decidiu que o melhor a fazer era matar todas as crianças que haviam nascido nos últimos dez dias de maneira a tentar encontrar e matar seu inimigo, Krishna.

Assim tiveram início as atrocidades de Kamsa e seus ministros, pelas quais pagaria quando o Senhor Krishna o eliminasse. Antes desse dia, o Senhor Krishna começou Seus passatempos com Seus devotos em Gokula e Vrindavana a fim de exibir Suas características, personalidade e beleza únicas.

Vasudeva silenciosamente procede com a troca de bebês.

Deste modo, como Sri Uddhava explicou a Vidura, “o Senhor apareceu no mundo mortal através de Sua potência interna, Yogamaya. Ele veio em Sua forma eterna, que é perfeitamente apropriada para Seus passatempos. Esses passatempos foram maravilhosos para todos – até mesmo para aqueles orgulhosos de sua própria opulência, incluindo o próprio Senhor em Sua forma como o Senhor Vaikuntha.

Assim, o corpo transcendental de Sri Krishna é o ornamento de todos os ornamentos… A Personalidade de Deus, o controlador absolutamente compassivo tanto da criação material quanto da criação espiritual, é não nascido, mas, quando há atrito entre Seus pacíficos devotos e aqueles que estão nos modos da natureza material, Ele nasce assim como o fogo, acompanhado pelo mahat-tattva”. (Srimad-Bhagavatam 3.2.12,15)

Como Compreender Deus

Algumas vezes, as pessoas dizem que querem ver Deus, ou que Deus não é perceptível. Ambos os pontos são confirmados na escritura védica, mas com considerações adicionais sobre como podemos perceber o Ser Supremo. A Shvetashvatara Upanishad (4.20) explica: “Sua forma de beleza é imperceptível aos sentidos mundanos.

Kamsa ouve a mensagem de Durga.

Ninguém O pode ver meramente com os olhos materiais. Somente aqueles que conseguem, através da profunda meditação, devoção e de um coração puro, entender Krishna, a Personalidade Suprema de Deus, que reside no coração de todos, podem obter a libertação”.

A lila de Krishna, ou os Seus passatempos, acontecem eternamente no mundo espiritual, ao passo que parecem acontecer somente em certos pontos do tempo dentro da energia material. Contudo, quem purificou sua consciência pode testemunhar essas atividades mesmo enquanto no corpo material. Isso pode ocorrer especialmente nos locais sagrados (dhamas), onde as energias material e espiritual se justapõem e o mundo espiritual aparece dentro desta esfera material.

Tais lugares existem e incluem Vrindavana, Mathura, Jagannatha Puri, Dvaraka e assim por diante. E quando o Senhor está satisfeito com o seu serviço e devoção (Bhakti Yoga), Ele vai Se revelar para você. Desta forma, muitos devotos elevadíssimos e puros de Krishna foram capazes de ter um darshana pessoal do Senhor e testemunhar Seus passatempos mesmo enquanto no corpo material. Tais pessoas deixaram instruções para nós de modo que, seguindo-as, possamos ter a mesma experiência. Essa é a verificação de que o processo de devoção, bhakti-yoga, funciona e LIBERTA !

O Srimad-Bhagavatam (10.14.29) traz este ponto: “Meu Senhor, se alguém é favorecido por mesmo um mero traço da misericórdia de Teus pés de lótus, ele pode entender a grandeza Tua, ó Personalidade Suprema. Aqueles que recorrem à especulação como o meio para compreender a Suprema Personalidade de Deus são incapazes de Te conhecerem, mesmo caso prossigam estudando os Vedas por muitos anos”.

O Senhor Vishnu aparece diante de Dhruva em reciprocidade às suas atividades devocionais.

Uma vez que Krishna é o Ser Supremo e a fonte de todo desfrute, é de nosso maior interesse nos ocuparmos a Seu serviço, pois isso também nos conectará a Ele e nos dará o grande prazer e a bem-aventurança que sempre tentamos encontrar. Esse é o ponto do serviço devocional, chamado bhakti-yoga, que é o processo de conectar (yoga) com o Supremo através da devoção (bhakti). Desta maneira, nossa inerente propensão amorosa é direcionada ao amante supremo e ao objeto natural do amor: Deus. Não existe melhor maneira para encontrar Deus do que essa.

Em outras palavras, através da devoção não tentamos ver Deus, mas agimos de tal forma que Deus Se revele a nós. Então, tudo se concretiza. Não pode haver conquista maior na forma humana de vida na Terra do que isso. Tudo mais é temporário – vem e se vai. Somente as nossas conquistas espirituais duram eternamente, pois são ligadas à alma imortal. Por conseguinte, redespertar nosso relacionamento com o Supremo é (e DEVE ser) a meta mais elevada na existência humana.

Dado que o Senhor Krishna é a Suprema Personalidade, naturalmente há certas maneiras pelas quais O compreender. O segredo é explicado diretamente pelo próprio Senhor Sri Krishna quando Ele diz: “O conhecimento acerca de Mim, como descrito nas escrituras, é muito confidencial e tem que ser assimilado em conjunto com o serviço devocional. Estou explicando a parafernália necessária para esse processo. Podes receber isso cuidadosamente. Tudo o que é Meu, a saber, Minha verdadeira forma eterna e Minha existência transcendental, Minha cor, Minhas qualidades e Minhas atividades – que tudo se desperte dentro de ti por vivência fatual, por Minha misericórdia sem causa”. (Srimad-Bhagavatam 2.9.31-32)

Parikshit, já renunciado das atividades régias, ouve Shukadeva discorrer sobre o Senhor Krishna.

Para dar início a esse processo, o sujeito necessita ouvir de alguém que sabe e é familiarizado com as qualidades do Senhor Krishna e pode explicá-las a outros. Isso é estabelecido neste famoso verso:

“Àquelas grandes almas que têm fé inabalável tanto no Senhor quanto no mestre espiritual, todos os significados do conhecimento védico são automaticamente revelados”. (Shvetashvatara Upanishad6.23)

“Regularmente ouvindo, cantando e meditando nos belos tópicos do Senhor Mukunda [Krishna] com sinceridade sempre crescente, um mortal alcançará o divino reino do Senhor, onde o inviolável poder da morte não tem influência. Para esse fim, muitas pessoas, incluindo grandes reis, abandonaram seus lares mundanos e partiram para a floresta”. (Srimad-Bhagavatam 10.90.50)

Nessa declaração fica claro que, para aqueles que ouvem e entoam o santo nome e os tópicos referentes a Krishna, milhões de graves reações pecaminosas são prontamente reduzidas a cinzas. É claro que o momento mais importante para nos lembrarmos do Senhor e cantarmos Seu nome é a hora da morte. É por isso que é dito que aqueles que cantam “Krishna, Krishna” na hora que o corpo expira são indivíduos aptos para a libertação.

A Gopala-tapani Upanishad (1.6) afirma que “aquele que medita na Pessoa Suprema, glorifica-O e adora-O, obtém a libertação”.

Krishna (VISHNU) e Radharani (LAKSHMI)

Em conclusão, o Senhor Krishna explica de maneira simples:

“Porque és Meu amigo muito querido, compartilho contigo a parte mais confidencial do conhecimento. Ouve-Me falar-te isso, pois é para o teu benefício. Sempre pensa em Mim e torna-te Meu devoto. Adora-Me e oferece-Me tuas homenagens. Assim, virás a Mim impreterivelmente. Prometo-te isso porque és Meu amigo muito querido. Abandona todas as variedades de religião e simplesmente te rende a Mim. Libertar-te-ei de todas as reações pecaminosas. Não temas”. (Bhagavad-gita 18.63-66)

Mais informações sobre KRISHNA e a ÍNDIA:

Permitida a reprodução, desde que mantido no formato original e mencione as fontes.

A ANTIGA ATLÂNTIDA - RELAÇÃO COM A MITOLOGIA (continuação)

atlantida-vimanaAtlântida e os deuses da Antiguidade (2)


Posted by Thoth3126 on 28/07/2017

Os deuses da Antiguidade e a Atlântida – Parte 2


A descrição da civilização de Atlântida fornecida por Platão, no livro “Timeo e Crítias”, pode ser assim resumida: 
No princípio dos tempos, os “deuses” dividiram a Terra entre si de acordo com suas respectivas dignidades, poderes e inclinações
Cada um se tornou divindade principal em seu território onde foram erguidos templos, símbolo da grandeza daqueles “deuses“; templos dirigidos por cleros de sacerdotes onde eram realizados rituais, entre os quais, os sacrifícios…  Tradução, edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

Atlantis and the Gods of Antiquity por Manly P. Hall – “In The Secret Teachings of All Ages”, 1928



ATLÂNTIDA é o tema de um artigo curto, mas importante que apareceu no Annual Report of the Board of Regents of The Smithsonian Institution [Relatório Anual do Conselho dos Regentes do Instituto Smithsonian] para o exercício findo agora no distante 30 de junho de 1915.

“A história da Atlântida”, escreve Inácio Donnelly, “é a chave da mitologia grega (e de todos os povos antigos). Não pode haver nenhuma dúvida de que esses deuses da Grécia eram seres humanos. A tendência para anexar atributos divinos para os importantes, antigos e históricos governantes terrestres esta profundamente implantada na consciência da natureza humana.

Uma enorme Pirâmide de Cristal submersa foi recentemente encontrada dentro dos limites do Triângulo da Bermudas, provável local onde ficava grande parte da Atlântida

O mesmo autor sustenta seus pontos de vista, observando que as divindades do panteão grego nem eram vistas como criadores do universo, mas sim como regentes estabelecidos sobre ele pelos seus mais antigos (deuses) e originais fabricantes do universo material. O Jardim do Éden da qual a humanidade foi expulsa por uma espada flamejante é talvez uma alusão ao paraíso terrestre de Atlântida supostamente localizado a oeste das Colunas de Hércules (o atual Estreito de Gibraltar entre a Espanha (Europa) e Gibraltar (África)) e destruído por cataclismos vulcânicos e pelas águas. A lenda do Dilúvio pode ser atribuída também à inundação da própria Atlântida, durante o qual um “mundo” foi destruído pelas águas e pelo fogo (erupções vulcânicas).

Os mistérios e a religião dos Atlantes

Nas profundezas do oceano Atlântico, parece que jazem os restos de um continente. …Por todo o litoral atlântico ─ de ambos os lados do oceano (nas Américas do Sul, Central e Norte e na costa oeste da África e Europa) ─ tribos e nações não conseguiram esquecer a sua existência. …O nome, em grande número de línguas, quase sempre contém os sons A-T-L-N. …

Lembranças de um continente desaparecido parecem ser instintivamente compartilhadas até por animais. …Aves, em suas migrações sazonais da Europa para a América do Sul, ficam circulando por sobre a mesma área do Atlântico, talvez à procura, sem sucesso, do local onde seus distantes ancestrais um dia descansaram.

A raiz ATL também significa água em muitas línguas ancestrais. Também existe a Cordilheira do ATLAS, uma cadeia de montanhas no noroeste da África que se estende por 2.400 km através de Marrocos, da Argélia e da Tunísia, e ainda inclui Gibraltar. O pico mais alto é o Jbel Toubkal, com 4.167 m, localizado no sul de Marrocos. As montanhas do Atlas separam as margens do Mar Mediterrâneo e do oceano Atlântico do deserto do Saara.

Notícia publicada em jornal da Flórida (Sun Sentinel) sobre a descoberta de duas enormes pirâmides de cristal intactas, submersas sob às águas do Mar do Caribe, a profundidade estimada de cerca de 600 metros, em região conhecida como o Triângulo do Diabo (dentro do Triângulo das Bermudas)

Foi o conhecimento religioso, filosófico e científico possuído pelas artimanhas sacerdotais da antiguidade garantidos por Atlântida, cuja submersão obliterou todo vestígio de sua parte no drama do progresso do mundo? A adoração do sol pelos Atlantes tem sido perpetuada no ritualismo e cerimonialismo do catolicismo romano e do mundo pagão (Mitra e os adoradores do fogo da Pérsia). 

Tanto a cruz assim como a serpente eram emblemas da sabedoria divina na Atlântida. O “divino” (Atlante) progenitor dos Maias e Quíchuas da América Central coexistiam dentro do esplendor verde e azul do Gucumatz, a serpente “emplumada”. Os seis sábios nascidos do céu entraram à manifestação na matéria como centros de luz ligados entre si ou sintetizados pelo sétimo – e principal – de sua ordem, a serpente “emplumada”. (Veja o Popol Vuh .)

O título de “asas” ou de serpente “emplumada” foi aplicado a Quetzalcoatl, ou Kukulcan, no início dos povos da América Central. O centro da Religião-Sabedoria de Atlântida era presumivelmente um grande templo piramidal em pé no topo de um planalto em ascensão no meio da Cidade das Portas Douradas. A partir daqui os Sacerdotes e Iniciados da religião da sagrada serpente saíram, levando as chaves da Sabedoria Universal e da doutrina secreta até os confins da terra.

As mitologias de muitas nações contêm relatos de deuses que “saíram das águas do mar.” Alguns xamãs entre os índios americanos falam de santos homens vestidos de penas e wampum (wampum são contas feitas de conchas de moluscos marinhos, tradicionalmente consideradas sagradas pelas tribos ameríndias da região nordeste do continente noete americano) que emergiram de entre as águas azuis e os instruíram (aos xamãs) nas artes e ofícios dos pássaros.


Entre as lendas dos caldeus existe uma sobre Oannes, uma criatura anfíbia, metade homem metade peixe, que saiu do mar e ensinou aos povos selvagens ao longo da costa a ler e escrever, cultivar o solo, cultivar ervas para a cura, estudar as estrelas, estabelecer formas racionais de governo, e tornar-se familiarizado com os mistérios sagrados.

Entre os Mayas, Quetzalcoatl, o deus salvador, que surgiu das águas e, depois de instruir as pessoas nos fundamentos da civilização, voltou para o mar em uma jangada de serpentes magicas para escapar da ira do deus feroz do espelho ardente, Tezcatlipoca. Pode não ter sido estes semideuses de uma época fabulosa que, como Esdras, que saíram do mar, eram sacerdotes da Atlântida? 

Tudo o que o homem primitivo se lembrava dos atlantes era a glória de seus ornamentos de ouro, a transcendência de sua sabedoria, e a santidade de seus símbolos – a cruz e a serpente. Que eles chegaram em navios em sua terras logo foi esquecido, para as mentes ignorantes que consideravam até os barcos como sobrenaturais. Onde quer que os atlantes faziam proselitismo eles erigiram pirâmides e templos padronizados após o grande santuário na cidade das Portas Douradas (a capital de Atlântida, Poseidonis).


Essa seria a origem das pirâmides do Egito, da pirâmides do México e América Central. Os montes na Normandia e Grã-Bretanha, assim como as dos índios norte americanos, seriam remanescentes de uma cultura similar. No meio do programa da colonização e conversão do mundo por Atlântida, os cataclismos que afundaram o continente de Atlantida começou. O clero de sacerdotes iniciados da doutrina de Atlântida que haviam prometido voltar para seus assentamentos missionários nunca mais retornaram, e com a passagem dos séculos a tradição foi preservada apenas como estorias cada vez mais fantásticas “dos deuses” que vieram de um lugar onde somente existe o mar agora.

HP Blavatsky resumiu assim as causas que precipitaram o desastre da Atlântida: “Sob as insinuações do mal do demônio Thevetat, a raça Atlante tornou-se uma nação de magos negros (n.t. – No período bem próximo ao seu afundamento até mesmo sacrifícios humanos foram praticados). Em conseqüência disso, a guerra foi declarada, essa é uma história que levaria muito tempo para ser narrada, a sua substância pode ser encontrada nas alegorias desfiguradas da raça de Caim, os gigantes, e do justo Noé e sua família com o dilúvio. O conflito chegou ao fim pela submersão da Atlântida; que encontra a sua imitação nas histórias da Babilônia e no mosaico de contos mundiais de uma grande inundação global:

***os magos e gigantes e toda a carne morreu *** e todo homem e mulher.’

Exceto Ziuzudra (o herói mítico sumério referido como Utnapishtim pelos babilônicos) e Noé, que são substancialmente idênticos com o grande Pai dos Thlinkithians no livro sagrado Popol Vuh, ou o livro sagrado dos guatemaltecos descendentes dos Maias, que também fala de sua fuga em um grande barco, como o hindu Noé – Vaiswasvata“. (Veja Ísis Sem Véu, de HP Blavastky ).

No RAMAYANA, no Mahabharata e nos Puranas, escritos sagrados muito antigos da ÍNDIA existem referências a Attala ─ a Ilha Branca ─ um continente localizado no oceano ocidental, e a guerra de RAMA contra os demônios Asuras, descrita no Ramayana (o Caminho de Rama) seria a narrativa de um grande conflito que houve entre o reino de Atlântida e o reino de Bharata (como a ÍNDIA era conhecida naqueles tempos remotos).

Nas Américas Central e do Sul e parte do território do México, os nativos, astecas, se acreditavam originários de Aztlán, uma ilha que para eles situava-se no oceano oriental. A palavra ATL(N) significa água em várias línguas nativas da África e das Américas. 

A partir dos atlantes o mundo recebeu não só a herança das artes e dos ofícios, filosofias e ciências, a ética e as religiões, mas também a herança de ódio, contenda e perversão. Os atlantes instigaram a primeira guerra, e foi dito que todas as guerras subseqüentes foram travadas em um esforço infrutífero para justificar a primeira e corrigir o erro que causou. Antes que Atlântida afundasse, seus Iniciados iluminados espiritualmente, que perceberam que a sua pátria estava condenada porque tinha se separado do Caminho da Luz, retirou-se do continente malfadado.

Levando consigo a doutrina secreta e sagrada (cerca de cincoenta anos antes, os filhos da luz começaram a transferir o seu conhecimento de Atlântida para a região do delta do Rio Nilo, dando início ao que viria ser as bases da civilização egípcia dos Faraós) essas atlantes estabeleceram-se no Egito, onde eles se tornaram seus primeiros governantes “divinos”. Quase todos os grandes mitos cosmológicos que formam a base dos vários livros sagrados do mundo baseiam-se nos rituais e doutrina dos mistérios Atlantes mantidos pelos “Filhos da Luz”.

Restos submersos de uma cidade com estruturas piramidais encontrada ao largo da costa de Cuba, também dentro da região do Triângulo das Bermudas

O mito do Deus Sacrificado

O mito de Tammuz e Ishtar é um dos primeiros exemplos da alegoria dos deuses moribundos, provavelmente datando de antes de 4.000 a.C. (Veja Babilônia e Assíria por Lewis Spencer.) A condição imperfeita dos tabletes sobre o qual as lendas estão inscritas torna impossível garantir mais do que um relato fragmentário dos ritos de Tamuz. Sendo o deus esotérico do sol, Tamuz não ocupa uma posição entre os primeiros deuses venerados pelos babilônios, que por falta de conhecimento mais profundo olhavam para ele como um deus da agricultura ou um espírito da vegetação. 

Originalmente, ele foi descrito como sendo um dos guardiões dos portões do submundo. Como muitos outros deuses salvadores, ele é referido como um “pastor” ou “o senhor do trono dos pastores”. Tamuz ocupa a posição de destaque do filho e marido de Ishtar, da deusa-mãe na Babilônia e na Assíria. A deusa Ishtar – a quem o planeta Vênus era consagrado – era a divindade mais venerada do panteão assírio e babilônico. Ela era uma deusa provavelmente idêntica com as deusas Ashtarot, Astarte e Afrodite. A história de sua descida ao inferno em busca do elixir sagrado, o que por si só poderia restaurar Tammuz à vida é a chave para o ritual de seus mistérios. 

Tammuz, cujo festival anual ocorria pouco antes do solstício de verão, morreu em pleno verão, no antigo mês que levava o seu nome, e era lamentado com cerimônias elaboradas. O modo como le morreu é desconhecido, mas algumas das acusações feitas contra Ishtar por Izdubar (Nimrod) indicaria que ela, pelo menos indiretamente, contribuíu para a sua morte. A ressurreição do deus Tammuz era a ocasião de grande alegria, momento em que ele era saudado como um “redentor e salvador” de seu povo.

Ishtar é a deusa da fertilidade, amor, guerra, do sexo, no oriente semita acadiano, assírio e babilônico. Ela é a contrapartida à deusa suméria mais antiga Inanna, e é o cognato para a deusa semita Aramaica, a deusa Astarte. Mais tarde se transforma em Afrodite na Grécia e depois Vênus em Roma. É a energia divina feminina.

Com as asas abertas, Ishtar, a filha de Sin (a Lua), voa para baixo, para as portas da morte. A casa das trevas – a morada do deus Irkalla – é descrita como “o lugar de onde não se retorna.” É sem luz, é trevas, o alimento dos que nela habitam é poeira e sua comida é lama. Sobre as portas da casa de Irkalla existe poeira dispersa, e os guardas da casa são cobertos com penas, como pássaros.

A deusa Ishtar exige aos guardas para abrir os portões, declarando que se não o fizerem, ela vai quebrar as ombreiras, atacar as dobradiças, derrubar as portas e levantar os devoradores dos seres vivos. Os guardiões dos portões imploram para que ela seja paciente enquanto eles vão ter com a rainha do Hades (o inferno) buscando a permissão para admitir Ishtar, mas apenas da mesma forma como todos os outros que vieram para esta casa infernal. 

Ishtar por isso desce através das sete portas que levam para baixo nas profundezas do submundo. Na primeira porta a grande coroa é removida de sua cabeça, no segundo portão os brincos das orelhas, no terceiro portão o colar de seu pescoço, no quarto portão os ornamentos de seu seio, no quinto portão foi o cinto de sua cintura, no sexto portão as pulseiras de suas mãos e pés, e no sétimo portão o manto que cobre o seu corpo. 

Ishtar protesta quando cada artigo sucessiva de sua indumentária é retirado dela, Bur, um dos guardiões diz a ela que essa é a experiência de todos os que entram no domínio sombrio da morte. Enfurecida ao ver Ishtar em seus domínios, a Senhora do Hades inflige sobre ela todos os tipos de doenças e aprisiona-a no submundo.

Como Ishtar representa o espírito da fertilidade, sua perda impede a maturação das lavouras e o amadurecimento e a manutenção de toda a vida sobre a terra, que fica sob risco..

Neste contexto, a história é paralela à lenda de Perséfone. Os deuses, percebendo que a perda (a corrupção da divina energia feminina) de Ishtar esta desorganizando toda a Natureza, envia um mensageiro para o submundo e exige a sua libertação. A Senhora do Hades é obrigada a cumprir a ordem, e a água da vida é derramada sobre o corpo de Ishtar. Assim curada das enfermidades infligidas, ela refaz seu caminho para o mundo da superfície, através dos sete portões, em cada um dos quais ela é novamente reinvestida com as suas dignidades, representadas pelas peças e artigos de vestuário que os guardiões haviam lhe removido. No registro não esta gravado que Ishtar garantiu a água da vida que mais tarde teria proporcionado a ressurreição de Tammuz.

O mito de Ishtar simboliza a descida do espírito humano através dos sete mundos ou esferas dos planetas sagrados, até que finalmente, privado de seus adornos espirituais, a ALMA humana encarna no corpo físico – o Hades e as suas sete portas (alegoria dos sete chakras do corpo humano)- onde a Senhora (a mente inferior) que domina o corpo inflige todas as formas de sofrimento e miséria sobre a consciência aprisionada. As águas da vida – a doutrina secreta que liberta a alma aprisionada – desenvolve a sabedoria e cura todas as doenças da ignorância, que causam a corrupção do espírito, ascendendo novamente à sua fonte divina, e assim recupera os seus adornos dados por Deus, a fonte de onde se origina, na medida que ascende novamente sobre e através dos anéis dos SETE planetas.

Outro mistério ritual entre os babilônios e assírios era o de Merodach e o dragão. Merodach, o criador do universo inferior, mata um monstro horrível e de seu corpo forma todo o universo. Aqui está a fonte provável da conhecida alegoria católica de São Jorge e o Dragão.

Os Mistérios de Adonis , ou Adoni , eram comemorados anualmente em muitas partes do Egito, Fenícia e Biblos. O nome Adonis , ou Adoni , significa “Senhor” e era uma designação aplicada ao deus sol e depois foi emprestado (entre tantas outras tradições) pelos judeus como o nome exotérico do seu Deus e chamado de ADONAI. Esmirna, mãe de Adonis, foi transformado em uma árvore pelos deuses e depois de um tempo, a casca se abriu e a criança, o Salvador nasceu. 


De acordo com um relato, ele foi libertado por um javali selvagem que dividiu a madeira da árvore materna com as suas presas. Adonis nasceu à meia-noite do dia 24 de dezembro, e através de sua morte infeliz um rito de mistérios foi estabelecido que operou a salvação de seu povo. No mês judaico de Tammuz (outro nome para esta divindade, Adonis), ele foi ferido até a morte por um javali enviado pelo Deus Ars (Marte). As Adoniasmos eram as cerimônias que ocorriam para lamentar a morte prematura do deus assassinado.

Em Ezequiel VIII, 14, está escrito que as mulheres choravam por Tamuz (Adonis) no portão norte da Casa do Senhor em Jerusalém. Sir James George Frazer cita Jeronimo assim:

“Ele nos diz que Belém, berço tradicional do Senhor, foi posta à sombra de um bosque dedicado ao velho Senhor sírio, Adonis, e que, quando o menino Jesus ali chorou, o amante de Vênus foi lá e se lamentou. ” (Veja The Golden Bough .)

A efígie de um javali selvagem é dito ter sido entalhada sobre uma das portas de Jerusalém em honra de Adonis, e seus ritos celebrados na gruta da Natividade, em Belém. Adonis como o homem “ferido” (ou “deus”) é uma das chaves para o uso do “javali” por Sir Francis Bacon em sua obra, em seu simbolismo esotérico e enigmático.

{n.t.: Nos registros de um antiquíssimo Templo budista em LHASA, no TIBETE, há para ser visto uma antiga inscrição caldeia inscrita cerca de 2.000 anos a.C. (ou mais antiga ainda…) onde se pode ler:

“Quando a estrela Baal caiu sobre o lugar onde agora é só mar e céu, -Atlântida – as sete cidades com suas portas de ouro e seus templos transparentes tremeram e balançaram como as folhas de uma árvore na tempestade. E eis que um dilúvio de fogo e fumaça surgiu a partir dos palácios, a agonia e os gritos da multidão preencheram o ar. Eles procuraram refúgio em seus templos e cidadelas e o sábio Mu, o hierático sacerdote de Ra-Mu, se levantou e lhes disse:

“Será que eu não previ tudo isso”?

E as mulheres e os homens em suas roupas brilhantes e pedras preciosas se lamentavam:

“Mu, salve-nos.”

E Mu respondeu:


“Vocês morrerão junto com os seus escravos e suas riquezas materiais e de suas cinzas surgirão novas nações (nossa atual “civilização”). E se eles também se esquecerem que são superiores, não por causa do que eles usam ou possuem, mas do ( bem e a Luz) que eles colocarem para fora de si mesmos, A MESMA SORTE VAI CAIR SOBRE ELES!”

As chamas e o fumo sufocaram as palavras de Mu. A terra das sete cidades e seus habitantes foram despedaçados e engolidos para as profundezas do oceano revolto em poucos dias”.} Parte 2 de 3. Continua…

“Deus é a Verdade e a Luz é Sua sombra“. Platão

Mais informações sobre Atlântida em:

Permitida a reprodução desde que mantida a formatação original e mencione as fontes.

ENREDADO NAS TAPERAS DA HISTÓRIA

Em Viena


Oscar Luiz Brisolara
A tarde caía doce, amarga. O céu tingido de cantos de quero-queros, muitos, afrontando os cães que seguiam à frente, à procura de ovos ou filhotes de perdizes. Na encosta suave, por entre chircas e samambaias, o vulto do velho Vicente Pedro Brizolara, esmaecido nas dobras do tempo, trôpego, buscava a sombra da velha figueira que seu pai plantara na juventude.
As raízes da eterna árvore cravadas no chão apelavam para a história. O antigo Pietro. A Gênova distante. Ana Francisca. Dos Silveiras, açorianos. Deles, os três Pedros. O Pedro puro. O José Pedro. Mais tardiamente, em 1840, o Joaquim Pedro. E foram depois tantos Pedros dos Brizolaras, confundindo as sendas da vida e da história.
Ecos de vozes. Meio apagados. Um quadro do casal: Pietro e Ana Francisca. O casamento. Mil oitocentos e pouco, parece. A grande parede. A casa grande. De diante do moinho. Diziam os que viram. Faziam farinha para Giuseppe e Bento, o Garibaldi e o Gonçalves, da Revolução dos Farrapos. 
Pois o velho Vicente Pedro vinha deles. Não sabia direito como. E o campo. Alguns dinheiros. Papelada e livros nos gavetões. Tudo havia sido deles. Ninguém sabia direito...
E houvera também as três meninas. A Maria, a Francisca e a encantadora Madalena Teodora, a última dos Brizolaras da primeira geração brasileira. Francisca, com seu marido Manuel da Rosa, seu irmão José Pedro e a esposa dele Luíza Amélia, foram-se. Taquarembó. Uruguai. Para sempre.
Pois a tarde continuava morrendo amolecida, entre sonhos e incertezas. Escravos semivestidos rolavam blocos irregulares que davam feição de moradia ao projeto no topo da colina grande. A estrada, naqueles dias, um simples trilho no capim, cortado pelas rodas das carretas. E o lajeado grande já repousava quente ao sol que se sumia na boca da noite, como impassivelmente, pelos séculos afora, o faz até hoje.
Por que quero-queros e perdizes jamais pousam num galho de árvore, num fio de cercado, num moirão de canto de alambrado, como o fazem os bem-te-vis e as rolas? Na alma, ao longe, um cheirinho doce de arrolar de pombos e suspiros de sabiás, conduzia o fio de tudo. Não enxergava o teclado, perdido nas brenhas do tempo.
Um mugido do velho Cabiuna, marcado no couro que fora tapete da sala central, por tempos sem conta, ainda ressoava nos meus ouvidos, sentindo as batidas do coração da velha Joaquina Farias Brizolara, descansando suas carnes flácidas, no antigo banco de madeira bruta. 
Observava, um tanto confusa, o Pedrinho, que, sofregamente, esmagava as formigas miúdas, surgindo muitas de por debaixo da porta dos fundos. Seriam já traços de sua insanidade? Ou não a tivera nenhuma? Teriam sido, quem sabe, apenas os desassombros e desajustes de uma cultura que se batia com outra, sem lógica. Explicação alguma que pudesse compreender. As revoluções. Os negócios ruins. Bois. Gente má. Campo. Não sabia o quê... como...
Pois, Pedro crescera. Casara-se com Altina, a Maria, dos Cruz, gente mais pobre que vivia num corredor de estância. Heleodoro, o Dorinho, ainda menino, a Elisa, um ano mais nova, foram levados para o galpão, enquanto seis homens fortes amarraram o Pedro. Hospício. Porto Alegre. Desespero. Enforcou-se. Alguém já ouviu falar de quero-quero enforcado? Perdiz, então? 
Ninguém mais falou. Nem o corpo. Não se falava. Mas Pedro Farias Brizolara, meio fantasma, meio espectro, meio assombração, viveu na alma de todos, por longos tempos. Arrepios. Sestros. Credo! Até que, aos poucos, a história apagou. Sem túmulo. Sem nada. Pedro Farias Brizolara ficou uma assinatura num livro de cartório de terras. Só. Ninguém mais fala. Ninguém sabe.
Depois, então, do Doro veio o Valcir. Os cartórios atrapalharam um pouco. Brizolara virou Brisolara. E eu saí desse ramo, que forjou minha face e minh’alma, misturado aos Pegoraros de Trento e aos Wolcans da Austro-Hungria.
Pois esses Brizolaras, também, como quero-queros e perdizes, jamais se desprendiam da terra. A segurança. O chão duro e firme. Mensurável. O abrigo. Porém, vieram as políticas. As revoluções. Os bancos. As partilhas e testamentos. As terras, divididas, divididas, divididas... sumiram de sob os seus pés perdidos. Vive-se hoje, como quero-queros, em estádios de futebol. Deslocados, sem entender a bola que voa e o povo que grita.
Visões de odores estranhos. Cheiros de céus antigos. Paredes batendo no fundo da alma. Gostos de sombras incompletas. Almas arranhando a pele. Uma sensação de presente perdido, atado por fios enredados em confusas histórias do que sou, mergulhado nas almas e nos corpos dos que foram... pois vivem e moram na alma e no corpo dos que ficaram, plantados para todo sempre, fisicamente no mais íntimo das células. Sou sepulturas vivas... de mortos que vivem mergulhados na essência do meu ser, em que revivem todos como carne e memória...

MUSIQUE FRANÇAISE - MA LIBERTÉ - GEORGES MOUSTAKI


sexta-feira, 28 de julho de 2017

A Caverna dos Antigos (1)

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Posted by Thoth3126 on 25/07/2017


Este é um livro que trata do Oculto e dos Poderes do Homem. É livro simples, no sentido de que nele não há “palavras estrangeiras”, palavras em sânscrito, nem coisa alguma de línguas mortas. A pessoa média quer SABER as coisas, e não ficar a adivinhar palavras que o autor médio tampouco compreende!
Se um autor sabe trabalhar, pode escrever, sem ter de disfarçar sua falta de conhecimento com o emprego de uma língua estrangeira. Um número demasiado de pessoas deixa-se envolver pela confusão. As leis da Vida são realmente simples; não há necessidade alguma de revesti-las de cultos místicos ou pseudo-religiões. Tampouco existe qualquer necessidade de que alguém afirme ter tido “revelações divinas”. QUALQUER PESSOA pode obter as mesmas “revelações”, se se esforçar por alcança-las… Edição e imagens:   Thoth3126@protonmail.ch

T. LOBSANG RAMPA, e o livro “A CAVERNA DOS ANTIGOS”

Nenhuma religião tem em si as Chaves do Céu, nem pessoa alguma será condenada para sempre, por ter entrado em uma igreja com o chapéu na cabeça, ao invés de tirar os sapatos. À entrada das lamaserias tibetanas, lê-se a inscrição: “Mil monges, mil religiões”.

Qualquer que seja nossa crença, se ela englobar o “faze ao próximo o que queres que te seja feito”, teremos êxito, quando soar o Chamamento final. Alguns dizem que o Conhecimento Interior só pode ser obtido ingressando-se neste ou naquele culto, ao mesmo tempo em que se faça o pagamento de uma contribuição substancial.

As Leis da Vida dizem: “Procura e encontrarás”. Este livro é o fruto de toda uma vida, de ensinamentos obtidos nas grandes lamaserias do Tibete e de poderes conquistados por uma observância rigorosa das Leis. Trata-se de conhecimento transmitido pelos Antigos, e se acha inscrito nas Pirâmides do Egito, nos Altos Templos da Cordillheira dos Andes e no maior de todos os repositorios de conhecimentos ocultos do mundo, o Planalto do Tibete – T. LOBSANG RAMPA [Nasceu: Cyril Henry Hoskin-8 April 1910, em Plympton, Devon, United Kingdom – Morte: 25 January 1981 (aged 70) Calgary, Alberta, Canada]


Capítulo 1

A noite era quente, deliciosa, invulgarmente quente para aquela época do ano. Erguendo-se com suavidade no ar onde não soprava vento algum, o odor doce do incenso trazia tranqüilidade ao nosso espírito. Muito longe, o sol se punha, em um resplendor de glória, por trás dos cumes altos dos picos dos Himalaias, conferindo às montanhas de cimos nevados a coloração de vermelho-sangue, como a prevenir que o solo tibetano se impregnaria de sangue, em dias futuros.

Sombras que se alongavam morosamente rastejavam em direção à cidade de Lhasa, vindas dos picos gêmeos da Potala e de nosso próprio Chakpori. Abaixo de nós, à direita, uma caravana retardada de viajantes vindos da Índia serpenteava em direção ao Pargo Kaling, ou Portão Ocidental. Os piedosos peregrinos que haviam ficado para trás seguiam desajeitadamente apressados em seu circuito da Estrada Lingkor, como a recear serem apanhados pela escuridão aveludada da noite, que se aproximava com rapidez. O Kyi Chu, o Rio Feliz, corria alegremente em sua intérmina jornada até o mar, apresentando clarões brilhantes de luz, como homenagem ao dia que findava. A cidade de Lhasa refulgia com o brilho dourado das lâmpadas de manteiga.

Da Potala próxima, uma trombeta soou, ao final do dia, suas notas estendendo-se pelo Vale, repercutindo nas superfícies rochosas e regressando a nós, com o timbre modificado. Olhei para o cenário conhecido, fitei a Potala, as centenas de janelas iluminadas, enquanto os monges de todos os graus tratavam de suas atividades, ao encerramento do dia. Por cima do edifício imenso, próxima aos Túmulos Dourados, uma figura solitária, distante e sozinha, estava em vigilância. Quando os últimos raios do sol desapareceram abaixo das cordilheiras, voltou a soar uma trombeta e um canto profundo ergueu-se do Templo, lá embaixo.

Pargo Kaling, ou Portão Ocidental em Lhasa, Tibete

Com rapidez, os últimos vestígios de luz se desvaneceram e as estrelas no céu formaram um esplendor de pedraria contra um pano de fundo purpúreo. Um meteoro rebrilhou no céu, explodindo em glória chamejante, antes de cair na Terra como poeira fumegante.

— Uma bela noite, Lobsang! — disse a voz que eu tanto amava.

— Uma bela noite, não há dúvida, — respondi, enquanto me punha rapidamente em pé, para poder fazer reverência ao Lama Mingyar Dondup. Ele sentou-se ao lado de uma muralha e me fez um gesto para que o imitasse. Apontando para cima, disse:

—Você percebe que gente, você e eu, podemos ter um aspecto como aquele? Eu o fitei espantado, sem saber como poderia eu ter o aspecto de miríades de estrelas no céu noturno.

O lama era um homem grande, de belo aspecto, a cabeça de aparência nobre. Ainda assim, não se parecia com uma coleção de estrelas! Ele riu-se de minha expressão intrigada.

—Literal como sempre, Lobsang, literal como sempre, — comentou, sorrindo.

— Eu queria dar a entender que as coisas não são sempre o que parecem. Se você escrevesse “Om! Mani Padme Hum”, e com letras tão grandes que preenchessem todo o Vale de Lhasa, as pessoas não o conseguiriam ler, pois seria grande demais para ver. Èle se deteve na explicação, observando-me para verificar se eu a acompanhava, e depois prosseguiu:

—Do mesmo modo, as estrelas são “tão grandes” que não podemos determinar o que realmente formam. Olhei para ele, como se o meu guia houvesse enlouquecido. As estrelas, formando alguma coisa? As estrelas eram — bem — estrelas! Depois, pensei em uma escrita tão grande que enchesse o Vale e que assim se tornava ilegível, devido a tais dimensões. A voz gentil prosseguiu:

—Pense em você encolhendo, encolhendo, tornando-se tão pequeno quanto um grão de areia. Qual seria meu aspecto para você, então? Suponha que se torne ainda menor, tão pequeno que o grão de areia passe a ser tão grande quanto um mundo, para você. Nesse caso, o que seria de mim? — perguntou, detendo-se e passando a me fitar com um olhar penetrante.

— Bem? — perguntou. — O que você veria?

Palacio Potala, em Lhasa, Tibete.

Eu continuei sentado, boquiaberto, o cérebro paralisado com o pensamento, a boca aberta como se fosse um peixe que haviam acabado de atirar à terra.

—Você veria, Lobsang — disse o Lama —, um grupo de mundos amplamente espaçados, flutuando nas trevas. Devido a seu tamanho minúsculo, você veria as moléculas de meu corpo, como mundos separados, com espaço imenso entre elas. Você veria mundos girando ao redor de mundos, você veria “sóis”, que seriam as moléculas de certos centros psíquicos, você veria um universo!

Meu cérebro rangia, eu era capaz de jurar que a “maquinaria” acima de minhas sobrancelhas tinha um estremecimento convulsivo, com o esforço que eu despendia a fim de acompanhar todo aquele conhecimento estranho e emocionante. O meu guia, o Lama Mingyar Dondup, estendeu a mão à frente, e com gentileza ergueu meu queixo.

—Lobsang! — disse, com uma risadinha. — Os seus olhos estão ficando vesgos, no esforço por me acompanhar.

Voltou a sentar-se, rindo, e deu-me alguns momentos para que eu me pudesse recuperar um pouco. Em seguida, exclamou:

—Olhe o tecido de seu manto. Apalpe-o!

Obedeci, sentindo-me notavelmente aparvalhado enquanto fitava o traje velho e esfarrapado que eu usava. O Lama observou:

—É tecido, algo liso ao tato. Você não pode ver através dele, mas imagine que o examina por um vidro de aumento, que amplie dez vezes a visão. Pense nos fios grossos de lã iaque, cada qual, dez vezes mais grosso do que você está vendo, agora. Conseguiria perceber a luz entre os fios, mas amplie os mesmos um milhão de vezes, e conseguirá passar entre dois a cavalo, a não ser que cada fio se tornasse grande demais para escalar! Eu compreendia, agora que me era mostrado. Permaneci sentado, pensando, assentindo, enquanto o Lama dizia:

— Como uma mulher velha e decrépita!

— Senhor! — exclamei, finalmente.

— Nesse caso, toda a vida é uma porção de espaço, salpicado de mundos.

— Não é tão simples assim — respondeu ele — mas sente-se de modo mais confortável, e eu falarei de um pouco do Conhecimento que descobrimos na Caverna dos Antigos

— A Caverna dos Antigos! — exclamei, cheio de curiosidade ávida.

— O senhor ia falar-me sobre isso, e sobre a Expedição!

— Sim! — disse ele, para me acalmar.

— E vou falar, mas antes examinemos o Homem e a Vida, como os Antigos, nos dias da Atlântida, os concebiam.


Em segredo, eu estava muito mais interessado na Caverna dos Antigos, que uma expedição de altos lamas descobrira, e que continha repositórios fabulosos de conhecimento e artefatos, de uma Era em que a Terra era muito jovem. Conhecendo tão bem o meu guia, sabia que de nada adiantaria esperar que ele me contasse tal história enquanto não estivesse pronto para fazê-lo, e que tal momento ainda não chegara. Acima de nós, as estrelas brilhavam com todo seu esplendor, sem sofrerem quase diminuição alguma da luz, graças ao ar rarefeito e puro do Tibete. Nos Templos e Lamaserias, as luzes se apagavam, uma por uma.

De muito longe, trazido pelo ar da noite, veio o lamento de um cachorro, e os latidos de resposta dos que se achavam na Aldeia de Shö, abaixo de nós. A noite era calma, até mesmo plácida, e nenhuma nuvem encobria a face da Lua, que se erguera fazia pouco. As bandeiras de oração pendiam inertes e sem vida, nos mastros. De algum lugar, veio o estralejar débil de uma Roda de orações, enquanto algum monge piedoso, envolto na superstição e sem perceber a Realidade, fazia a Roda girar, na esperança inútil de conquistar a graça dos Deuses. O Lama, meu guia, sorriu ao ouvir aquele som, e disse:

—A cada qual segundo sua crença, a cada qual de acordo com sua necessidade. Os aparatos externos da religião cerimonial são um consolo para muitos, e não devemos condenar aqueles que ainda não percorreram uma distância suficiente, na Trilha, e não conseguem ficar em pé sem tais muletas. Vou-lhe falar, Lobsang, da natureza do Homem.

Eu me sentia muito achegado a esse Homem, o único que demonstrara consideração e amor por mim. Ouvia com atenção, a fim de corresponder à confiança que ele tinha em mim. Pelo menos, foi assim que comecei a ouvir, mas logo descobri que o assunto era fascinante, e que eu ouvia com interesse completo e indisfarçado.

—Todo o mundo é feito de vibrações, toda a Vida, tudo que é inanimado consiste de vibrações (ENERGIA). Até mesmo os poderosos Himalaias — disse o Lama

— São apenas uma massa de partículas suspensas, na qual nenhuma delas pode tocar a outra. O mundo, o Universo, consiste de partículas diminutas de matéria, ao redor das quais outras partículas de matéria rodopiam. Assim como o nosso Sol tem mundos a circular em torno de si, mantendo sempre a distância, sem se tocarem em momento algum, também tudo quanto existe é composto de mundos em rodopios.

Ele parou, fitando-me, como a querer saber se tudo aquilo estaria além de minha capacidade de compreensão, mas eu estava compreendendo tudo, com facilidade. Ele prosseguiu:

— Os fantasmas que nós, os clarividentes, vemos no Templo, são pessoas, pessoas vivas, que deixaram este mundo e entraram em um estado no qual suas moléculas se acham tão amplamente dispersas que o “fantasma” pode atravessar a parede mais densa, sem tocar uma só molécula da mesma.

— Honrado Mestre — disse eu

— Por que sentimos um formigamento, quando um “fantasma” passa perto de nós?

LHASA e palacio de Potala

— Cada molécula, cada pequenino sistema de “sol e planeta” (átomo) está cercado por uma carga elétrica, não o tipo de eletricidade que o Homem gera com máquinas, mas de um tipo mais refinado. A eletricidade que vemos brilhando no céu, em algumas noites. Assim como a Terra tem as Luzes Austrais, ou Aurora Boreal, brilhando nos pólos, também a partícula mais insignificante de matéria possui suas “Luzes Austrais”. Um “fantasma” que se aproxima demasiadamente de nós causa um choque suave à nossa aura, e é por isso que ficamos com esse formigamento.

Ao redor de nós, a noite estava calma, sem um só sopro de vento perturbando a tranqüilidade; reinava um silêncio que só se conhece em países como o Tibete.

—A aura, então, que nós vemos, é uma carga elétrica? —perguntei.

—Sim! — respondeu meu guia, o Lama Mingyar Dondup.

—Em países fora do Tibete, onde os fios carregam uma corrente elétrica em voltagens elevadas, estendidos sobre a terra, observa-se um “efeito de corona”, que é reconhecido pelos engenheiros elétricos. Nesse “efeito de corona” os fios parecem estar cercados por uma corona ou aura de luz azulada. Observa-se principalmente em noites escuras e nubladas, mas, naturalmente, está presente todo o tempo, para aqueles que podem ver. Dito isso, fitou-me com uma expressão reflexiva.

— Quando você for a Chungking, para estudar medicina, utilizará um instrumento que registra as ondas elétricas do cérebro. Toda a Vida, tudo que existe, é eletricidade e vibração.

— Agora, estou perplexo! — respondi.

— E como pode a Vida ser vibração e eletricidade? Eu entendo uma, mas não ambas.

— Mas, meu caro Lobsang, — disse o Lama, rindo

— Não pode haver eletricidade sem vibração, sem movimento! É o movimento que gera a eletricidade e, portanto, os dois se acham intimamente relacionados.

Notou que eu franzia a testa, espantado, e com seu poder telepático leu meus pensamentos.

—Não! — disse, então.

— Não é qualquer vibração que serve! Vou-lhe explicar o seguinte: Imagine um teclado musical realmente vasto, que se estenda daqui ao infinito. As vibrações, que consideramos como corpos sólidos, estarão representadas por uma nota nesse teclado. A seguinte pode representar o som, e a outra, a visão. Outras notas indicarão as sensações, os sentidos, os intuitos, dos quais não temos compreensão alguma, enquanto nos achamos nesta Terra. Um cão pode ouvir notas mais altas do que o ser humano, e este pode ouvir notas mais baixas do que um cachorro. Palavras poderiam ser ditas ao cachorro em tons altos que ele ouviria, sem que o humano sequer o percebesse. Do mesmo modo, as pessoas do chamado Mundo Espiritual se comunicam com aquelas ainda nesta Terra, quando o ser terreno tem o dom especial da audição especial. O Lama fez uma pausa, e riu de leve.

“Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses!” – João 10:34

—Não o estou deixando dormir, Lobsang, mas você terá a manhã de folga, para descontar isso — declarou, e fez um movimento com a mão, em direção às estrelas que brilhavam com tanta clareza no ar puríssimo.

— Desde que visitei a Caverna dos Antigos e experimentei os instrumentos maravilhosos de lá, instrumentos que ficaram intactos desde os dias da Atlântida, muitas vezes me diverti com um capricho. Gosto de pensar em duas pequenas criaturas sencientes, menores do que o menor dos vírus. Não importa que forma tenham, basta concordar que sejam inteligentes e disponham de instrumentos super poderosos. Imagine as mesmas, de pé sobre um espaço aberto em seu próprio mundo infinitesimal (exatamente como estamos agora!) “Puxa! É uma bela noite!”, exclama A, fitando o céu com atenção. “Sim”, responde B, “faz a gente ficar pensando no propósito da Vida, no que somos, para onde vamos.” A se cala, pensativo, fitando as estrelas que se estendem nos céus, em número infinito. “Mundos sem limite, milhões, bilhões deles. Quantos serão habitados?” “Bobagens! Sacrilégio! Ridículo”! Gagueja B, “você sabe que não há vida senão em nosso mundo, pois os Sacerdotes não afirmam que somos feitos à Imagem de Deus? E como pode haver outra vida, senão exatamente igual à nossa? Não, é impossível, você está ficando doido!” A murmura para si próprio, com raiva, enquanto se afasta: “Eles podem estar errados, você sabe, eles podem estar errados!” O Lama Mingyar Dondup sorriu para mim, dizendo:

—Sei, até mesmo, de uma seqüência para isso! Eila: em algum laboratório distante, dispondo de uma ciência com a qual nem sequer sonhamos, e onde existiam microscópios de poder fantástico, dois cientistas estavam trabalhando. Um, sentado num banco, os olhos colados ao super-super microscópio pelo qual espiava. De repente, teve um sobressalto, empurrando o banco para trás, fazendo ruído e riscando o soalho luzidio. “Olhe, Chan!” gritou para seu ajudante. “Venha ver isto!” Chan se levantou, foi ter com o Superior agitado, sentando-se diante do microscópio. “Estou com a milionésima parte de um grão de sulfato de chumbo na lâmina”, disse o Superior. “Olhe só!” Chan ajustou os controles e assoviou com surpresa completa. “Puxa!” exclamou. “É como olhar o Universo, por um telescópio. Um sol brilhando, planetas em órbita…!” O Superior falou, em tom sôfrego: “Será que teremos uma ampliação suficiente para ver um desses mundos individuais, será que existe vida ali?” “Bobagens!” disse Chan, com brusquidão. “Naturalmente que não existe vida senciente. Não pode haver, pois os Sacerdotes não afirmam que somos feitos à Imagem de Deus? Assim sendo, como é possível haver vida inteligente ali?”

Acima de nós, as estrelas seguiam em seu curso, infinitas, eternas. Sorrindo, o Lama Mingyar Dondup enfiou a mão no manto e dali retirou uma caixa de fósforos, tesouro trazido da longínqua Índia. Devagar, retirou um palito de fósforo e o suspendeu.

—Vou mostrar-lhe a Criação, Lobsang! — disse, em tom alegre. Com gestos deliberados, passou o fósforo pela superfície áspera da caixa e, enquanto o mesmo irrompia em fogo, ele o segurava. Em seguida, soprou, apagando-o!

—A Criação e a dissolução — declarou.

— O fósforo aceso emitiu milhares de partículas, cada qual a separar-se das demais, em explosão. Cada uma delas era um mundo separado, o conjunto era um Universo. E o Universo morreu, quando a chama se extinguiu. Você pode afirmar que não havia vidas nesses mundos? Eu o olhei com ar de dúvida, sem saber o que dizer.

—Se eles eram mundos, Lobsang, e se tinham vida em si, para essa Vida os mundos teriam durado milhões de anos. E nós, seremos apenas um fósforo aceso? Estaremos nós vivendo aqui, com nossas alegrias e pesares… na maior parte pesares! . . . pensando que este é um mundo sem fim ? Pense, e conversaremos amanhã mais um pouco.

Dito isso, ficou em pé e desapareceu. Eu segui com passos pesados pelo telhado, tateando às cegas, para o patamar da escada que dava para lá. Nossas escadas eram diferentes das usadas no mundo ocidental, e consistiam de postes com entalhes. Encontrei o primeiro entalhe, o segundo, o terceiro, e logo meu pé escorregou onde alguém derramara manteiga de uma lâmpada. Eu caí estrepitosamente, chegando ao pé da escada de qualquer maneira, vendo mais “estrelas” do que havia no céu par cima, e fazendo surgir muitos protestos dos monges que dormiam. Uma mão surgiu, na escuridão, aplicando-me um cachação que fez minha cabeça retinir. Com rapidez, pus-me em pé e saí correndo para a segurança da escuridão ao redor.


Tão silenciosamente quanto possível, descobri um lugar onde dormir, envolto no manto e abandonando o controle da consciência. Nem mesmo o arrastar de pés rápidos me incomodava, nem as conchas e sinetas de prata interromperam meus sonhos. A manhã já ia alta, quando fui despertado por alguém que, com grande entusiasmo, me dava pontapés. Os olhos pesados, fitei o rosto de um chela imenso.

—Acorda! Acorda! Pela Adaga Sagrada, tu és um lorpa preguiçoso! Ato contínuo, deu-me novos pontapés — e com força. Estendi a mão, apanhei-lhe o pé e o torci. Com um estrondo de quebrar ossos, ele caiu ao chão, gritando.

—O Senhor Abade! O Senhor Abade! Ele quer falar contigo, imbecil!

Desferindo-lhe um bom pontapé, para compensar os muitos que ele me dera, endireitei o manto e segui apressadamente. “Não comi… não fiz desjejum!” resmungava para mim mesmo. “Por que motivo todo mundo quer falar comigo, quando está na hora de comer?” Seguindo às pressas pelos corredores sem fim, passando de carreira pelas esquinas, quase causei ataque cardíaco a alguns monges velhos que caminhavam por ali, tropegamente, mas cheguei à sala do Senhor Abade sem perder tempo. Entrando com afobação, caí de joelhos e fiz minhas mesuras demonstrativas de respeito. O Senhor Abade examinava meu Registro, e em certo momento ouvi que ele conseguia abafar, às pressas, o riso.

—Ah! — disse ele. — O rapaz rebelde, que cai nos penhascos, passa graxa nas andas e provoca mais agitação do que qualquer outro daqui! Fez uma pausa, fitando-me com severidade, e prosseguiu:

—Mas você estudou bem, extraordinariamente bem. Suas capacidades metafísicas são de tal natureza, e você se adiantou tanto no estudo, que vou mandá-lo estudar, de modo especial e individual, com o Grande Lama Mingyar Dondup. Você recebe uma oportunidade sem precedentes, pela ordem expressa de Sua Santidade. Agora, apresente-se ao Lama, seu guia.

Mandando-me embora, com um aceno da mão, o Senhor Abade voltou-se novamente para seus documentos. Aliviado pelo fato de que nenhum dos meus numerosos “pecados” fora descoberto, saí à toda pressa. O meu guia, o Lama Mingyar Dondup, estava sentado e à minha espera. Fitando-me com atenção, quando entrei, ele disse:

— Já quebrou o seu jejum?

— Não, Senhor — respondi —, o Reverendo Senhor Abade mandou-me chamar, enquanto eu ainda dormia. . . eu estou com fome! Ele riu e disse:

—Ah! Notei que você tinha um ar acabrunhado, como o de quem sofreu algo. Vá saindo, faça seu desjejum e volte para cá.

Não foi preciso ordenar duas vezes — eu estava com fome, e isso não me agradava. Pouco sabia, naquela ocasião, embora houvesse sido predito, que a fome me acompanharia por muitos anos de minha vida. Retemperado por um bom desjejum, mas abatido em espírito pelo pensamento de mais trabalho duro à frente, voltei a ter com o Lama Mingyar Dondup. Ele se pôs em pé quando entrei.

— Venha! — disse. — Vamos passar uma semana na Potala.

Seguindo à frente, saiu do Salão, até um local onde um monge-palafreneiro esperava, com dois cavalos. Cheio de presságios, examinei o animal que me era destinado. Com aspecto ainda mais agourento, o animal me fitou, demonstrando a meu respeito opinião menos lisonjeira do que a que eu tinha dele. Tomado do pressentimento de desastre iminente, montei e segurei-me na sela. Os cavalos eram criaturas terríveis, inseguras, temperamentais e não tinham freios. Andar a cavalo era uma de minhas habilitações menos destacadas. Seguimos aos trancos pela trilha montanhosa que parte de Chakpori. Atravessando a estrada Mani Lakhang, tendo o Pargo Kaling à nossa direita, logo entramos na Aldeia de Shö — onde meu guia fez uma parada rápida, e depois subimos penosamente os degraus íngremes da Potala. Montar em cavalo que sobe degraus íngremes é uma experiência desagradável, e minha preocupação principal era não cair da sela!

Chagpori visto desde o palácio Potala

Monges, lamas e visitantes, numa procissão incessante, subiam e desciam os degraus, alguns parando para admirar a vista, enquanto outros, que tinham sido recebidos pelo próprio Dalai Lama, só pensavam nessa entrevista. No fim dos degraus, nós paramos, e eu desmontei do cavalo, cheio de satisfação, porém absolutamente sem estilo. Ele, pobre coitado, deu um relincho de desagrado e voltou as costas para mim! Prosseguimos caminhando, subindo escada após escada, até chegarmos ao nível alto da Potala, onde o Lama Mingyar Dondup tinha aposentos permanentes, próximos à Sala das Ciências. Dispositivos estranhos, vindos de países de todo o mundo, encontravam-se ali, mas os mais estranhos de todos eram aqueles que tinham vindo de um passado muito mais distante.

Assim, chegamos finalmente a nosso destino, e eu me instalei por algum tempo no que era agora o meu quarto. Da minha janela, bem alta, na Potala, apenas um andar abaixo do Dalai Lama, eu podia examinar Lhasa, no Vale. Bem ao longe, podia ver a grande Catedral (Jo Kang), seu telhado dourado a refulgir. A Estrada Circular, ou Língkor, estendia-se a distância, fazendo um circuito completo da Cidade de Lhasa. Peregrinos piedosos a congestionavam, todos eles vindos para prostrar-se diante do maior centro mundial de conhecimentos ocultos. Fiquei maravilhado por minha boa sorte, em ter um guia tão maravilhoso quanto o Lama Mingyar Dondup; sem ele, eu seria um chela comum, vivendo num dormitório escuro, ao invés de estar quase no ponto mais alto do mundo. De repente, e tão de súbito que emiti um grito de surpresa, braços fortes agarraram os meus, erguendo-me no ar. Uma voz penetrante disse:

—Então! Tudo que pensa, sobre o seu guia, é que ele o traz para cima, na Potala, e que lhe dá aqueles confeitos enjoativamente doces, que vêm da Índia? — perguntou, rebatendo meus protestos com risadas, e eu estava cego ou confuso demais para compreender que ele sabia o que eu pensava a seu respeito! Finalmente, ele disse:

—Nós estamos em rapport, nós nos conhecemos muito bem em uma vida anterior. Você já tem todo o conhecimento dessa vida passada, e só precisa ser lembrado. Agora, é preciso trabalhar. Venha a meu quarto.

Endireitei o manto, recoloquei no mesmo minha tigela, que caíra quando eu fora erguido no ar, e segui apressadamente para o quarto de meu guia. Ele, com um gesto da mão, mandou-me sentar e, após eu o ter feito, disse:

—E já pensou sobre a questão da Vida, em nossa conversa de ontem à noite? Baixei a cabeça, um tanto desalentado, enquanto respondia.

—Senhor, eu tive de dormir, depois o Senhor Abade quis falar comigo, em seguida o senhor quis falar comigo, e eu precisei comer, e depois o senhor quis falar comigo outra vez. Não tive tempo de pensar em coisa alguma hoje! Havia um sorriso no rosto dele, enquanto dizia:

—Nós vamos falar mais tarde sobre os efeitos da comida, mas antes disso voltemos a falar sobre a Vida. Fez silêncio, estendendo a mão para um livro que estava escrito em alguma língua estrangeira exótica. Hoje sei que essa língua era o inglês. Passando as páginas, ele encontrou finalmente aquela que procurava. Entregando-me o livro, aberto de modo a ver uma ilustração, ele perguntou:

—Você sabe o que é isto? Examinei a ilustração, e notei que era tão comum que examinei também as palavras estranhas escritas por baixo da mesma. Aquilo não significava coisa alguma para mim. Devolvendo o livro, eu disse, em tom recriminador:

— O senhor sabe que eu não posso lê-lo, Honrado Lama!

— Mas você reconheceu o desenho? — persistiu ele.

— Bem, sim, é só um Espírito da Natureza, sem diferença das coisas daqui. Eu me tornava cada vez mais perplexo. De que se tratava, afinal de contas? O Lama abriu novamente o livro e disse:

Pico do monte Everest, maior montanha do planeta

—Em um país distante, no outro lado do mar, a capacidade geral de ver os Espíritos da Natureza foi perdida. Se alguém, por lá, vir um Espírito assim, passa a ser assunto de galhofa, e o vidente é literalmente acusado de “estar vendo coisas que não existem”. Os ocidentais não acreditam senão nas coisas que possam ser retalhadas e examinadas, ou seguras com as mãos, ou postas em uma gaiola. Um Espírito da Natureza recebe, por lá, o nome de Duende… e eles não acreditam nas histórias de Duendes. Isso me deixou bastante espantado. Eu via Espíritos à todo momento, e os considerava inteiramente naturais. Sacudi a cabeça, procurando clarear as idéias. O Lama Mingyar Dondup voltou a falar:

—Toda a Vida, como eu lhe disse ontem à noite, consiste de Matéria em vibração rápida, gerando uma carga elétrica, a eletricidade é a Vida da Matéria. Como na música, existem diversas oitavas. O Homem comum vibra em certa oitava, e um Espírito Natural e um Fantasma vibram numa oitava acima. Devido ao fato de que o Homem Comum vive, pensa e crê em apenas uma oitava, os seres das demais oitavas lhes são invisíveis!

Remexi em meu manto, pensando no caso: aquilo não fazia sentido para mim. Eu conseguia ver fantasmas e espíritos naturais e, portando, qualquer um deveria poder vê-los também. O Lama, lendo meus pensamentos, respondeu:

— Você vê a aura dos seres humanos. A maioria dos outros seres humanos não a vê. Você vê os espíritos naturais e os fantasmas. A maioria dos outros seres humanos não os vê. Todas as crianças muito novas podem ver essas coisas, porque os infantes são mais receptivos. E depois, à medida que a criança se torna mais velha, as ocupações da vida embrutecem suas percepções. No Ocidente, as crianças que dizem aos pais que brincaram com Espírito são castigadas por estarem mentindo, ou se vêem ridicularizadas por sua “imaginação vívida”. A criança não gosta de tal tratamento e, após algum tempo, convence-se a si mesma de que tudo foi imaginação! Você, devido à sua criação especial, vê fantasmas e espíritos naturais, e os verá sempre. . . assim como verá sempre a aura humana.

— Quer dizer que até os espíritos naturais que tratam das flores são o mesmo que nós? — perguntei.

— Sim — respondeu ele —, o mesmo que nós, a não ser que vibram mais depressa, e que suas partículas de matéria são mais difusas. É por isso que você pode atravessá-los com a mão, assim como pode atravessar com a mão um raio de sol.

— O senhor já tocou… o senhor sabe, segurou… um fantasma? — indaguei.

— Sim, toquei! — respondeu ele. — Isso pode ser feito, quando se eleva a velocidade das vibrações. Eu lhe falarei a respeito. Meu guia tocou a sineta de prata, presente dado por um Alto Abade de uma das Lamaserias mais conhecidas do Tibete. O monge-criado, conhecendo-nos bem, trouxe, não o tsampa, mas chá de plantas indianas e aqueles bolinhos doces que eram trazidos pelas cordilheiras, especialmente para Sua Santidade, o Dalai Lama, e dos quais eu, um simples cheia, gostava tanto. “Recompensa pelos esforços especiais no estudo”, como Sua Santidade dissera muitas vezes.

O Lama Mingyar Dondup percorrera o mundo, tanto no plano físico quanto no astral. Uma de suas pouquíssimas fraquezas era a preferência pelo chá indiano, fraqueza essa que eu endossava com o maior gosto! Nós nos sentamos a cômodo, e assim que eu terminei os meus bolinhos, o meu guia e amigo falou:

—Há muitos anos, quando eu era jovem, passei correndo por uma esquina, aqui, na Potala… exatamente como você, Lobsang! Estava atrasado para o Serviço, e para meu horror vi um abade enorme, impedindo a passagem. Também ele estava com pressa! Não havia tempo para desviar-me; eu ensaiava minhas desculpas, quando colidimos, com toda a força. Ele ficou tão alarmado quanto eu, mas eu estava tão estupidificado, que continuei correndo, e assim não cheguei atrasado, ou atrasado demais, afinal de contas. Eu ri, pensando no digno Lama Mingyar Dondup, correndo! Ele sorriu, prosseguindo:

—Bem tarde, aquela noite, pensei no assunto. E pensei: “Por que eu não posso tocar em um fantasma?” Quanto mais pensava, tanto mais me decidi a tocar um deles. Preparei os planos com cuidado, li todas as Escrituras antigas que tratam dessas questões. Consultei também um homem muito sábio, que vivia em uma caverna bem alta, nas montanhas. Ele me contou muita coisa, pôs-me no caminho certo, e eu vou contar como foi, porque leva diretamente ao tema de tocar um fantasma. Serviu-se de mais chá e sorveu-o durante algum tempo, antes de prosseguir.


—A Vida, como lhe disse, consiste em uma massa de partículas, pequeninos mundos circulando ao redor de pequenos sóis. O movimento gera uma substância que, por falta de expressão melhor, chamaremos “eletricidade”. Se comermos de modo sensato, poderemos aumentar nossa cadência de vibrações. Uma dieta sensata, que nada tem a ver com aquelas idéias de certos cultos extravagantes, aumenta a saúde da pessoa, e aumenta a cadência básica de vibração. Assim, aproximamo-nos mais da cadência de vibração do fantasma. Ele se deteve, acendendo um novo bastão de incenso. Satisfeito ao ver que a extremidade do mesmo brilhava de modo satisfatório, voltou a dedicar-me sua atenção.

—O fito único do incenso é aumentar a cadência de vibrações do lugar onde é queimado, e a cadência daqueles que se encontram nesse lugar. Utilizando-se o incenso correto, pois todos são preparados para uma certa vibração, podemos atingir determinados resultados. Por uma semana, eu me ative a uma dieta rígida, que aumentou minha vibração ou “freqüência”. Também durante essa semana, queimei constantemente o incenso apropriado, em meu quarto. Ao final desse período, estava quase “fora” de mim mesmo; achava que flutuava, ao invés de andar, sentia dificuldade em manter minha forma astral dentro da forma física. Olhou para mim, sorrindo, enquanto prosseguia:

—Você não teria gostado de uma dieta tão rigorosa! “Não”, eu estava pensando, “prefiro uma boa refeição sólida a qualquer fantasma!”

—Ao fim da semana — disse o Lama, meu Guia — desci para o Santuário Interno e queimei mais incenso, enquanto implorava que um fantasma viesse e me tocasse. De repente, senti o calor de uma mão amiga no ombro. Voltando-me para ver quem perturbava minha meditação, quase caí de costas, ao ver que estava sendo tocado pelo espírito de um que “morrera” mais de um ano antes. O Lama Mingyar Dondup parou abruptamente, e depois riu alto, ao recordar a experiência de antes.

— Lobsang! — exclamou, finalmente. — O velho Lama “morto” riu para mim, e perguntou por que motivo eu me dera a todo aquele trabalho, quando tudo que tinha a fazer era entrar no plano astral! Confesso que fiquei mortificadíssimo em pensar que uma solução tão óbvia me escapara. Ora, como você sabe muito bem, nós passamos ao astral para conversar com os fantasmas e os seres da natureza.

— Naturalmente, o senhor falava por telepatia — observei —, e eu não conheço qualquer explicação para a telepatia. Eu a uso, mas como a uso?

— Você faz as perguntas mais difíceis, Lobsang! — disse meu guia, rindo. — As coisas mais simples são as mais difíceis de explicar. Diga-me, como explicaria o processo da respiração? Você respira, todos respiram, mas como se explica esse processo? Eu assenti, carrancudo. Sabia que eu estava sempre fazendo perguntas, mas esse era o único meio de aprender as coisas. A maioria dos demais chelas não se interessava, desde que recebesse comida e o trabalho não fosse muito pesado, com o que se dava por satisfeito. Eu queria mais, eu queria saber.

—O cérebro — disse o Lama — é como um aparelho de rádio, como o dispositivo que esse homem Marconi está usando para mandar mensagens através dos oceanos. A coleção de partículas e cargas elétricas que constitui um ser humano tem o dispositivo elétrico, ou rádio, do cérebro, para lhe dizer o que fazer. Quando uma pessoa pensa em mover um órgão, correntes elétricas percorrem os nervos apropriados para galvanizar os músculos, levando-os à ação desejada. Do mesmo modo, quando uma pessoa pensa, ondas de rádio ou elétricas. . . na verdade, elas vêm da parte superior do espectro de rádio… são irradiadas do cérebro. Certos instrumentos podem registrar as radiações e até marcá-las no que os médicos ocidentais chamam “linhas alfa, beta, delta e gama”. Eu assenti, com movimentos lentos da cabeça. Já ouvira falar nessas coisas, junto aos Lamas Médicos.

— Pois bem — meu guia prosseguiu — as pessoas sensíveis também podem perceber essas radiações, e compreendê-las. Eu leio seus pensamentos, e quando você o tentar, poderá ler os meus. Quanto mais duas pessoas estejam em simpatia, em harmonia, uma com a outra, tanto mais fácil será para elas ler essas radiações cerebrais que são os pensamentos. Assim é que temos a telepatia. Os gêmeos, muitas vezes, são inteiramente telepáticos um quanto ao outro. Os gêmeos idênticos, onde o cérebro de um é a cópia fiel do outro, são tão telepáticos entre si que muitas vezes se torna realmente difícil determinar qual dos dois deu origem a um pensamento.

— Respeitável Senhor — disse eu — como sabe, posso ler a maioria das mentes. Por que é assim? Existem muitos outros com essa capacidade?


— Você, Lobsang — respondeu meu guia — tem dons especiais, e recebe treinamento especial. Os seus poderes estão sendo aumentados por todos os métodos de que dispomos, porque tem à frente uma tarefa difícil a desempenhar na Vida. Dito isso, sacudiu a cabeça, com ar solene, acrescentando:

—Uma tarefa difícil, sem dúvida. Nos Dias Antigos, Lobsang, a humanidade vivia em comunhão telepática com o mundo animal. Nos anos vindouros, após a Humanidade ter percebido a loucura das guerras, tal capacidade será recuperada; mais uma vez o Homem e o Animal viverão juntos, em paz, sem qualquer desejo de um causar mal ao outro. Lá embaixo um gongo soou repetidamente. Houve o clangor de trombetas e o Lama Mingyar Dondup se pos em pé num salto, dizendo:

—Temos de apressar-nos, Lobsang, o Serviço do Templo vai começar, e Sua Santidade estará presente. Eu me ergui depressa, arrumei o manto e saí atrás de meu guia, já na extremidade do corredor e quase desaparecendo.

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