quarta-feira, 9 de março de 2016

UNIDADE E PLURALIDADE NO EXISTIR




Ás vezes, a quebra das normas da gramática oficial produzem um texto que permite leituras diferenciadas:. Veja a seguinte sequência agramatical:
"Nois era sete irmão. Fumu morrenu, fummu morrenu e fiquemu eu só." Nos ternos "nois" e "sete", estão marcas de pluralidade, enquanto "era" e "irmão" são marcados pela singularidade. Essa alternância ente "Nois" e "era", "sete" e "irmão" destaca de um lado a quantidade: eram muitos; de outro, a singularidade, eram um, havia unidade que se mantém na sequência seguinte. Em "fumu morrenu" não há uma separação, como acontece em foram morrendo, pois o narrador, que está vivo, destaca as perdas de parte de si a cada morte dos que se foram. Em "fumu morrenu" está contida a mágoa de, na morte de cada um, ocorrer a perda de um pouco de si, na essência dos que ficavam. Acontece então a epifânica conclusão de "fiquemu eu sò" em que neste que ficou e que narra a ocorrência ter permanecido um pouco de todos os outros que se foram. Permite-se então a parousíaca conclusão de que aqueles que se amam estamos sempre todos numa unidade epifânica universal, indissolúvel e eterna, estando vivos ou mortos numa eterna comunidade.

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