domingo, 22 de março de 2015

SEGUNDO A MITOLOGIA, A METÁFORA TEM SUA ORIGEM NO MITO DE EROS - ACCORDING TO MYTHOLOGY, METAPHOR HAS ITS ORIGIN IN THE MYTH OF EROS

Prof. Dr. Oscar Brisolara

A figura de linguagem conhecida como metáfora tem sua origem no mito grego de Eros (ρως). Segundo as fontes da clássica Hélade, ele era filho de Póros e Penia.
Póros era uma divindade olímpica, filho de Zeus (Ζεύς) e da deusa Métis (Μτις). Exatamente no dia em que os deuses festejavam o nascimento de Afrodite, o deus Póros repousava placidamente nos jardins do Olimpo, morada das divindades helênicas, quando a jovem Penia (Πενία), pobre humana, mendiga, buscando possíveis migalhas do banque divinal, encontrou o belo deus adormecido. O deus, despertando, moveu-se de súbita paixão pela jovem que o observava curiosa e fecundou-a. Dessa união, nasceu Eros.
Dessa fusão da abundância divina e da extrema carência humana, surge, então, o deus que está na raiz de todas as artes, especialmente nas artes e nas ciências da linguagem. 
Eros é a raiz primeira da curiosidade e do desejo, que engendraram as ciências, e a mais recôndita e insondável delas todas, a linguagem, que cingiu os homens entre si e elevou-os, pela razão e pelo diálogo, ao universo dos deuses.
Toda a metáfora é fruto dessa carência essencial que Penia conferiu, de sua natureza mais profunda, à linguagem. Na fome da expressão, na ausência do termo próprio do gene de Penia, cai a abundância de Póros e traz uma palavra que, em não sendo termo positivo e fechado, é o suprimento abundante do vazio, que a incompletude humana busca na plenitude divina.
Portanto, a metáfora, a essência da linguagem e do literário, é sempre fruto de um vazio, que é preenchido por um termo proveniente de fora, que não é dali, como o demonstra sua etimologia grega: μεταφορά (metaforá), (μετά = além, de outra parte e φέρω, transportar), portanto, há algo que se transporta de fora, para compor a plenitude extrapolante do sentido. 
Mas, de certo modo, toda a linguagem é eterna metáfora, é suprimento da carência essencial do espírito humano na busca do dizer e do sentido, no encontro do outro, também carente e faminto de linguagem, cujo rosto diante mim me interroga e desafia.
A linguagem humana é, pela própria característica essencial do espírito dos mortais, repleta de ausências, de abismos marcados pela incompletude. E a metáfora é esse complemento que provém de outro lugar, que se situa em outro universo de significação, e se insere nesses vazios de sentindo, extrapolando, pela abundância divina, a carência humana.


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