segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A COMPLEXA HISTÓRIA DE HONG KONKG – DOMÍNIO INGLÊS – ANEXAÇÃO À CHINA

Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
         
A primeira observação que se precisa fazer ao olhar para Hong Kong é a sua densidade populacional. Para tal, vou fazer uma comparação com o município de Rio Grande, Rio Grande do Sul.
Nosso município tem uma área de 2.813 km², Hong Kong, por seu lado, tem uma área de 1.104 km², menos da metade, portanto. Porém, o que contrasta conosco é a densidade populacional.
Enquanto em Rio Grande vivem em torno de 207.000 habitantes, em 2014, em Hong Kong, 7.184.000. Nossa densidade populacional é de 0,07, a de Hong Kong é de 6.544 habitantes por km². Para se ter uma noção das consequências disso, Trago um fato particular. Em 2004 fui convidado para um congresso de linguística nessa cidade e, pelo excesso de compromissos, não pude comparecer ao encontro, mas duas colegas que lá estiveram contaram-me que há guardas sobre pedestais na rua para comandar o movimento das pessoas.
HONG KONG MAP


Caso um grupo pare para uma conversa em local movimentado, o guarda dá um comando de apito para que sigam andando para não congestionar a cidade. É um dos lugares de maior densidade populacional do mundo. É como se quase toda a população do Rio Grande do Sul vivesse em um espaço como o do município de Rio Grande.
Pois, politicamente também há hoje, nesse lugar, uma situação complicada.  Desde 1841, essa região pertencia à Inglaterra, como veremos mais adiante. Porém, em 1 de julho de 1977 foi devolvida à China.
Organizou-se, a partir desse ano, um sistema administrativo específico para a cidade, concedendo-lhe grande independência em relação à administração chinesa. Criaram-se duas RAE (Regiões Administrativas Especiais) dentro da República Popular da China: Hong Kong, e a ex-colônia portuguesa Macau.
Hong Kong, assim, passou a reger-se por um sistema político diferente do da China Continental. O judiciário independente de Hong Kong funciona no âmbito da Common law (do inglês "direito comum") sistema que se desenvolveu em alguns países: neles, as leis emergem de decisões dos tribunais e não mediante atos dos legislativos e executivos. Além do mais, haveria um administrador local eleito democraticamente.
A Lei Básica, ou seja, a constituição dessa espécie de cidade-estado devia ter um elevado grau de autonomia, em todas as esferas. Ficaria dependente da China apenas no que diz respeito às relações internacionais e à defesa militar. Foi eleito pela população, para chefe do executivo Tung Chee-hwa. Ocorre que o governo central da China nunca olhou com bons olhos essa independência.
Começou, o governo de Pequim, em 2003, por criar leis que restringiam os direitos civis do cidadão, como leis de antissubversão. Houve, nesse ano, movimentos de rua contra essas limitações. Em 2005, os burocratas de Pequim proibiram as eleições previstas para 2007 e adiaram sine die a expansão do número de juízes popularmente eleitos.
Visão panorâmica de Hong Kong

Depois de realizarem, por pressão, um processo eleitoral, uma multidão de manifestantes tomou as ruas novamente para criticar o governo. Acontece que o resultado das eleições deu ampla maioria aos candidatos pró-democracia, que conseguiram 60% dos votos nas eleições de setembro de 2004, enquanto os pró-Pequim garantiram apenas 40% das cadeiras na legislatura. 
Depois de inúmeras manifestações de insatisfação contra seu governo, o primeiro executivo eleito Tung Chee-hwa abandonou o poder em março de 2005, alegando problemas de saúde. Muitos especuladores acreditam que ele tenha sido forçado a renunciar. Donald Tsang, vice do governante anterior, tornou-se chefe do executivo de Hong Kong.
Por fim, em 2012 procederam-se novas eleições e o candidato Pró-Pequim Leung Chun-ying, conhecido como C. Y. Leung, foi eleito como terceiro chefe do executivo de Hong Kong.
Mas, é necessário fazer uma retrospectiva histórica para recuperar duas grandes ocorrências com relação a Hong Kong: primeiramente o modo como a região se tornou possessão inglesa; depois, a relação com a República Popular da China, especialmente durante o conflito entre Mao Tse Tung e  Chiang Kai-shek que resultou no governo comunista de Pequim.
No século XIX, a Inglaterra e a França dominavam o comércio internacional, com a decadência do império espanhol. A Inglaterra tomara a Índia do domínio Francês nos meados do XVIII. A França continuava com seu domínio sobre a China e todo o sudeste asiático, mantendo domínio comercial sobre países como Vietnam, Camboja e adjacências.
No século XIX inicia-se um processo imperialista mais agressivo em que as próprias frotas dos países dominadores do comércio internacional, fortemente armadas, impunham o próprio monopólio. O ópio era uma mercadoria que proporcionava grandes lucros. Os ingleses produziam o entorpecente na sua colônia da Índia. Porém, a China não permitia o ingresso desse produto em seu território. Ocorreu, entre 1839 e 1842,  a operação militar conhecida como Guerra do Ópio. A Inglaterra se impôs com seu poderio bélico e tomou a região de Hong Kong, um profundo porto natural, para fazer seu ponto de comércio para o território chinês.
Hong Kong - parte insular

Outro fato histórico importante envolvendo a região de Hong Kong foi a Revolução Comunista Chinesa. Chiang Kai-shek foi o líder da República Chinesa desde 1927. Chefiou as guerras sino-japonesas, recebendo mesmo o apoio dos comunistas liderados por Mao Tse Tung. Porém, entre 1946 e 1950, enfrentou os comunistas de Mao, que de há muito militavam no interior do país, e foi derrotado. Nesse ano de 1950, Chiang Kai-shek faz um acordo com Mao, abandona a China e recolhe-se para a ilha de Formosa, onde forma a China Nacionalista, hoje Taiwan. Foi durante a guerra civil chinesa que muitos inimigos do comunismo se estabeleceram em Hong Kong, aumentando mais ainda sua população.

A Inglaterra, de há muito temia perder pela força esse enclave no território chinês, com o crescimento do poderio militar e depois econômico da China. Além do mais, não representava mais importante negócio. Hong Kong, por seu lado, tem uma poderosa bolsa de valores, uma indústria sofisticada e uma posição militar significativa para os chineses, voltada para Taiwan, o Japão e o Oceano Pacífico. Além do mais, pertencendo a uma potência europeia, é uma posição do ocidente em seu território.
Os movimentos anti-chineses de agora em Hong Kong têm profundos laços com sua longa história ligada ao ocidente, relacionada a processos filosófico-ideológicos. Isso pode ter resultados político-militares imprevisíveis.

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