sexta-feira, 7 de março de 2014

SULLY PRUDHOMME – Primeiro Prêmio Nobel da Literatura


UM SONHO

Em sonho me disse o lavrador; “Faze teu pão.
Não contes mais comigo.: cava a terra e semeia”.
Disse-me o tecelão: “Tua roupa, faze tu mesmo”.
E me disse o pedreiro: “Pega a colher de mão”.

Sozinho, abandonado por todo o gênero humano,
Cujo implacável anátema por toda a parte arrastava,
Ao suplicar aos céus pela piedade humana,
Diante do meu caminho leões, atentos, encontrei.

Os olhos abri, não crendo que fosse real a aurora.
Valentes operários de construção, em suas escadas, assobiavam.
Os negócios fervilhavam, os campos estavam semeados.

A felicidade conheci, e mais, no mundo onde vivemos
Ninguém se gabar pode de ser melhor do que outrem..
Daquele dia em diante, a todos passei a amar.

Sully Prudhomme
 – Biografia – 
Foi o primeiro autor a receber o prêmio Nobel da Literatura. É poeta socialista, de um socialismo primeiro. René Armand François Prudhomme, mais conhecido como Sully Prudhomme (Paris, 16 de março de 1839 — Châtenay-Malabry, 6 de setembro de 1907), foi um poeta francês. Filho de Sully Prudhomme, comerciante, e de Clotilde Caillat, ingressou num instituto politécnico para estudar na área científica. No entanto, devido a uma doença oftalmológica, teve que desistir desse objetivo. Trabalhou numa fábrica, como escriturário, mas, descontente, decidiu estudar direito, em 1860. Em 1865, publica a sua primeira obra poética, Stances et Poèmes. Pertence ao grupo de poetas parnasianos, responsáveis pela publicação da revista Parnasse contemporain.Foi eleito para a Academia Francesa em 1881, ocupando a cadeira 24. Foi o primeiro autor a receber o Nobel de Literatura, no dia 10 de dezembro de 1901.Sully Prudhomme morreu em Châtenay-Malabry, França, em 6 de setembro de 1907, e foi sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, em Paris.



UN SONGE

Le laboureur m’a dit en songe: “Fais ton pain”;
Je ne te nourris plus: gratte la terra, et sème”.
Le tisserand m’a dit: Fais tes habits toi-même”
Et le maçon m’a dit: “Prends la truelle en main.”

Et seul, abandoné de tout le genre humain,
Don’t je traînais partout l’impacable anathème
Quand j’implorais du ciel une pitié suprême,
Je trouvais dês lions debout dans monchemi.

J’ouvris les yeux , doutant si l’aube était réele:
De hardis companagnons sifflaient sur leur échelle,
Les métiers bourdonnaient, les champs étaient semés.

Je connus mon bonheur, e qu’au monde où nous sommes
Nul ne peut se vaner de se passer des hommes;
Et depuis ce jour-là, je les ai tous aimés.


Le vase brisé

Le vase où meurt cette vervaine
D'un coup d'éventail fut fêlé ;
Le coup dut l'effleurer à peine,
Aucun bruit ne l'a révélé.

Mais la légère meurtrissure,
Mordant le cristal chaque jour,
D'une marche invisible et sûre
En a fait lentement le tour.

Son eau fraîche a fui goutte à goutte,
Le suc des fleurs s'est épuisé ;
Personne encore ne s'en doute,
N'y touchez pas, il est brisé.

Souvent aussi la main qu'on aime
Effleurant le coeur, le meurtrit ;
Puis le coeur se fend de lui-même,
La fleur de son amour périt ;

Toujours intact aux yeux du monde,
Il sent croître et pleurer tout bas
Sa blessure fine et profonde :
Il est brisé, n'y touchez pas.
Sully Prudhomme


O VASO PARTIDO
O vaso azul destas verbenas,
Partiu-o um leque que o tocou:
Golpe sutil, roçou-o apenas
Pois nem um ruído revelou.

Mas a fenda persistente,
Mordendo-o sempre sem sinal,
Fez, firme e imperceptivelmente,
A volta toda do cristal.

A água fugiu calada e fria,
A seiva toda se esgotou;
Ninguém de nada desconfia,
Não toquem, não, que se quebrou.

Assim, a mão de alguém, roçando
Num coração, enche-o de dor,
E ele se vai, calmo, quebrando,
E morre a flor do seu amor;

Embora intacto ao olhar do mundo,
Sente, na sua solidão,
Crescer seu mal, fino e profundo,
Já se quebrou: não toquem, não.

Sully Prudhomme ( Trad. Guilherme de Almeida)

Le cygne
Sans bruit, sous le miroir des lacs profonds et calmes,
Le cygne chasse l'onde avec ses larges palmes,
Et glisse. Le duvet de ses flancs est pareil
A des neiges d'avril qui croulent au soleil ;
Mais, ferme et d'un blanc mat, vibrant sous le zéphire,
Sa grande aile l'entraîne ainsi qu'un blanc navire.
Il dresse son beau col au-dessus des roseaux,
Le plonge, le promène allongé sur les eaux,
Le courbe gracieux comme un profil d'acanthe,
Et cache son bec noir dans sa gorge éclatante.
Tantôt le long des pins, séjour d'ombre et de paix,
Il serpente, et, laissant les herbages épais
Traîner derrière lui comme une chevelure,
Il va d'une tardive et languissante allure.
La grotte où le poète écoute ce qu'il sent,
Et la source qui pleure un éternel absent,
Lui plaisent ; il y rôde ; une feuille de saule
En silence tombée effleure son épaule.
Tantôt il pousse au large, et, loin du bois obscur,
Superbe, gouvernant du côté de l'azur,
Il choisit, pour fêter sa blancheur qu'il admire,
La place éblouissante où le soleil se mire.

Puis, quand les bords de l'eau ne se distinguent plus,
A l'heure où toute forme est un spectre confus,
Où l'horizon brunit rayé d'un long trait rouge,
Alors que pas un jonc, pas un glaïeul ne bouge,
Que les rainettes font dans l'air serein leur bruit,
Et que la luciole au clair de lune luit,
L'oiseau, dans le lac sombre où sous lui se reflète
La splendeur d'une nuit lactée et violette,
Comme un vase d'argent parmi des diamants,
Dort, la tête sous l'aile, entre deux firmaments.



O CISNE

Calmo, do espelho azul d’água profunda e calma
à face errando, os pés, lânguido, o cisne espalma
E desliza. Da neve os raros flocos brancos
Lembra o fino frouxel que lhe amacia os flancos;
Línea vela parece a asa que encurva e brande,
Esbelto, e ora retrai, ora sacode e expande;
Entre as ninféias indo, o alvo pescoço apruma,
Colhe-o após, some-o n’água, estende-o sobre a espuma,
Curva-o mole e gracioso, e ânfora antiga imita.

Dos pinheiros ao longo, onde o silêncio habita
E a paz e a sombra, vai; rastejando na esteira,
Que atrás fica, semelha intensa cabeleira
A basta ervagem fresca a palpitar. A gruta,
Que a alma atrai do poeta e a voz da tarde escuta,
Praz-lhe e a fonte que além flui, regurgita e bolha.
Vendo-as, lento se arrasta. às vezes numa folha
Leve cai do salgueiro e, em sua queda, leve,
Roça-lhe, muda sombra, as plumas cor de neve.
Caminha agora ao largo; o implexo da ramagem
Deixa e a parte procura onde o esplendor selvagem
Diz melhor com o brilhar d’água anilada e pura.
Do lado é a parte mais azul que ele procura;
E lá vai... a cismar sobre as ondas serenas,
Entrega à luz do sol a brancura das penas.

Depois, quando, em redor, se confundem, caindo
A noite, do amplo lago as margens, e no infinito
Horizonte há somente um ponto avermelhado;
Quando tudo quedou, quando no ilimitado
Do céu paira da lua o globo enorme e albente;
Quando acende o lampiro a luz fosforescente,
E nem o menor sopro o débil junco embala:
O cisne, sob o olhar dessa noite de opala,
Em seu lago sombrio, enfim, descansa; e, acaso
Visto de alguém, assim, lembra de prata um vaso...
Põe sob a asa a cabeça, os olhos sonolentos
Fecha, e dorme, feliz, entre dois firmamentos.

Sully Prudhomme
(Trad. de Alberto de Oliveira)

The Broken Vase 

A fan’s light tap
Was enough to chip
This flower vase
In which the roses
Now are dying.
No sound it made

But a hairline crack
Day after day
Almost unseen
Crept slowly round the glass
And dropp by dropp
The water trickled out

While the vital sap
In the roses’ stems
Grew dry.
Now no-one doubts:
“Don’t touch”, they say,
“It’s broken”.

Often, too, the hand one loves
May lightly brush against the heart
And bruise it.
Slowly then across that heart
A hidden crack will spread
And love’s fair flower perish.

Pete Crowther


Il vaso infranto

Il vaso in cui muore Violetta
Un battito d’ali spezzò;
Una farfalla passata di fretta,
Lo sguardo d’alcuno destò.

La piccola scalfitura
Mordendo il cristallo ogni giorno,
Inesorabile, cieca, sicura
Ne ha percorso l’intero contorno.

L’acqua è sparita in un’ora,
E la linfa ha fatto fagotto
Nessuno ne dubita ancora.
Ma non lo toccare, che è rotto10

Così spesso la mano amata,
Ferisce sfiorandolo il cuore;
Poi l’anima si fende stremata,
E crepa Violetta d’amore;

Sempre intatto agli occhi del mondo,
Piange piano e sente vibrare
Il suo taglio fino e profondo.
Ma è rotto, non lo toccare.


EL BÚCARO ROTO

El vaso en que agoniza esta verbena
un golpe de abanico estremeció;
debió el golpe sutil rozarlo apenas,
pues que ruido ninguno se escuchó.

Mas la leve, invisible rasgadura,
de marcha persistente, siempre igual,
con su fina, constante mordedura,
lentamente rodeando fue el cristal.

Así la mano que nos es querida,
nos hiere, sin saberlo, el corazón;
se agranda en él la misteriosa herida
y sucumbe la flor de su pasión.

El agua destiló gota por gota,
la savia de la flor se extingue ya,
pero la oculta herida nadie nota :
¡el vaso no toquéis, que roto está!


Die zerbrochene Vase

Drin die Verbene welkt, die Vase
Von eines Fächers Schlag zersprang,
Der Schlag hat kaum geritzt am Glase,
Kein leisestes Geräusch erklang.

Doch war sie noch so fein gesprungen,
Es fraß sich weiter im Kristall,
Und ganz unmerkUch ist gedrungen
Langsam der Riß nach überall.

Sie rinnt. Ihr Naß in Tropfen schwindet,
Die Blume dorrt schon allgemach.
Doch ist noch niemand, der's empfindet:
Nicht daran rühren, — sie zerbrach! . . .

Oft ritzt, die liebend man gehalten,
Die Hand ein leichtverletzlich Herz,
Dann muß das Herz tiefinnen spalten.
Die Liebe welkt darin mit Schmerz.

Die Welt sieht nicht die feine Wunde,
Da doch das Herz sie wachsen spürt
Und leise weinen tief im Grunde:
Es brach — o nicht daran gerührt!

SULLY-PRUDHOMME 

Nenhum comentário:

Postar um comentário